Folha de S. Paulo
Vice de Bolsonaro emitiu declaração de
guerra contra ex-presidente e almeja liderar bloco
"Perdeu, mané." A mensagem
emergiu no pronunciamento do presidente em exercício Hamilton Mourão, horas
antes do Ano-Novo, na véspera da inauguração de Lula 3. Não foi, porém, a
principal. O general, vice, senador emitiu uma declaração de guerra a Jair Bolsonaro,
anunciando um cisma.
A fuga do presidente para a Flórida,
molecagem final, descortinou uma oportunidade preciosa. Enquanto,
desmoralizados, os manés derradeiros ainda ajoelhavam-se diante de urutus
estáticos, Mourão detonou cargas de explosivos na abandonada casamata bolsonarista.
"Lideranças que deveriam tranquilizar
e unir a nação em torno de um projeto de país deixaram com que o silêncio ou o
protagonismo inoportuno e deletério criasse um clima de caos e de desagregação
social." Lideranças? Trata-se, claro, de Bolsonaro. Lida direito, a
mensagem adensa o argumento para processar o presidente fujão por crimes contra
a ordem constitucional: ali está, pouco disfarçada, a acusação de
"fomentar um pretenso golpe".
Mourão mandou os manés para casa ("Retornemos à normalidade da vida, aos nossos afazeres e ao concerto de nossos lares") como quem diz que as tais "lideranças" os iludiram. Não esqueceu de tocar nas emoções sacrossantas dos fanáticos, imputando veladamente ao STF ("instituições públicas") uma "abstenção intencional do cumprimento dos imperativos constitucionais". Mas esvaziou o circo bolsonarista sobre o artigo 142, mencionando a "equivocada canalização de aspirações e expectativas para outros atores públicos" (leia-se: Forças Armadas) que "carecem de lastro legal para o saneamento do desequilíbrio institucional".
Guerra para que? Mourão falou dos
representantes eleitos que "farão dura oposição ao projeto progressista do
governo de turno sem, contudo, promover oposição ao Brasil". É o gesto
inicial de uma figura que almeja liderar um bloco parlamentar oposicionista,
disputando o heterogêneo espólio eleitoral do bolsonarismo. A meta tática
sinaliza o objetivo estratégico: a construção de um partido da direita clássica.
Na sua declaração de guerra, Mourão
mencionou a democracia sete vezes, sem nunca recorrer à senha bolsonarista da
"liberdade do povo brasileiro", que figurou como síntese do plano
golpista. Conectou a democracia ao "Livre Mercado" (assim, enfeitado
com maiúsculas), ao "estado de direito" e à "alternância
política", registrando que mudamos de governo "mas não de
regime". Seu esboçado partido da direita clássica operaria dentro da regra
do jogo.
A plataforma do partido está exposta no
pronunciamento, em elogios à privatização, à reforma administrativa, à reforma
previdenciária e ao equilíbrio das contas públicas. Uma "educação
isenta" propiciaria a "redução das desigualdades" e
"oportunidades iguais a todos". O "destino-manifesto" do
Brasil seria tornar-se a "mais próspera democracia liberal ao sul do
Equador". Um partido economicamente liberal e socialmente conservador,
despido das obsessões conspiratórias olavo-bolsonaristas –eis o projeto de
Mourão.
O senador, eleito pelo Republicanos,
dirige-se ao PL e ao PP, investindo na cisão do bolsonarismo parlamentar.
Referindo-se às "práticas sistemáticas de corrupção", acena igualmente
a correntes ainda inspiradas pelo combalido Sergio Moro, da União Brasil, e ao
perplexo MBL. No percurso, busca livrar-se das responsabilidades pelos
"percalços" na "área ambiental", atribuindo o desmatamento
na Amazônia às injunções maléficas do passado distante (a "sanha
predatória oriunda dos tempos coloniais").
Historicamente, desde a finada UDN, a
direita brasileira tendeu ao golpismo, reunindo-se diante dos portões dos
quartéis. O próprio Mourão flertou com a intervenção militar em 2017. Seu eventual
sucesso na articulação de um partido da direita clássica faria bem à democracia
– e, mais ainda, à saúde mental dos manés.
9 comentários:
Superestimou o mourão q nunca foi levado a serio pelo bozo.
Vejo enorme contradição neste último parágrafo:
"Historicamente,..., a direita brasileira tendeu ao golpismo,.... O próprio Mourão flertou com a intervenção militar em 2017. Seu eventual sucesso na articulação de um partido da direita clássica faria bem à democracia..."
Como um partido de uma direita e seu fundador, q flertam com golpes contra a democracia, pode fazer bem a democracia?
Óbvio q não, Magnoli! A não ser, claro, q é exatamente isso, golpe, q o Magnoli deseja - aí faz sentido. kkkkkkkkkkkkkkkkkl
Talvez o Magnoli flerte com o golpismo e intervenções.
Curioso… apenas na undecima hora este Vice de um governo que defenestra vem a público dizer sua palavra de isenção e de pretensa salvação do caos que ele, em silêncio sepulcral, endossou durante quatro anos ? Temos, felizmente, mais que fazer …
Só agora ? Onde estava antes? Acordou agora pra dar uma de bom democrata?
Discordo do primeiro anônimo e concordo com o colunista. Se Mourão e seu grupo PARAREM de flertar com o golpismo (ou a intervenção militar) e aderirem a um partido realmente democrático, mesmo que de direita, a Democracia brasileira pode ser beneficiada, sim. Vejo algo similar com José Sarney, que participou de governos militares ditatoriais, mas depois abandonou tais grupos e se filiou a partidos democráticos e até comandou um governo democrático, tendo desde então se mantido nos limites democráticos esperados dos políticos tradicionais. Não sei se Mourão é tão confiável, mas se ele se afastar do golpismo já é um problema a menos para nossa ainda insegura Democracia.
SE PARAREM, vc diz.
Se papai Noel me der a paz no mundo...
Caia na real! O próprio autor diz q a direita HISTORICAMENTE golpeia. Assim como o mourão golpeia.
Aí, vc diz: Ah, mas eu creio em contos de fadas. A direita brasileira e o mourão, SE PARAREM, nos darão um direita democrática.
Inocente útil! Ou inútil!
Mourão foi humilhado nos 4 anos do bozo. E se humilhou calado.
Nos estertores do gov do genocida, resolveu dar uma de democrata?
O cabra sequer participava de reuniões governamentais - pode-se dizer, então, q ele protestava? NÃO!
SE ELE FOSSE DEMOCRATA, TERIA FEITO COMO SANTOS CRUZ.
Concordo com o primeiro anônimo.O grande herói do Brasil,segundo Mourão,é o Coronel Brilhante Ustra.
Magnoli, à vontade, fica bem discorrendo sobre o Partido Mourista.
Levou quanto, a soldo do novo direitista 'clássico'?
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