sexta-feira, 21 de junho de 2024

Ruy Castro - O novo planeta Portugal

Folha de S. Paulo

Quem vibra com Portugal hoje não o imagina o país triste e atrasado de apenas 50 anos atrás

Leitores habituados a ir a Portugal nos últimos tempos e a se encantar com a vida e a euforia de suas cidades parecem acreditar que sempre foi assim. Daí estranharem quando o classifiquei outro dia ("Desmemória coletiva") de ser, antes do dia 25 de abril de 1974, o país "mais triste e atrasado da Europa". "Como assim?", perguntaram. "Que milagre aconteceu nesses 50 anos?" É uma resposta que deixo aos economistas. Só posso descrever como era naquele tempo —porque eu estava lá.

Era o país dos homens de cinza e das mulheres de preto, em permanente luto por uma vida sem expectativas. Uma ditadura de 48 anos dependente da receita colonial e fascista. A polícia política por toda parte. Ninguém era estimulado a investir, a se arriscar. O analfabetismo batia os 60%. O congelamento dos táxis e dos aluguéis, de décadas, dizia tudo —os carros e os imóveis caíam de velhos, assim como o país.

Aliás, era o país dos velhos. Eu tinha 26 anos e não via gente da minha idade ao meu redor. Os moços estavam na África, na guerra contra os movimentos de libertação de suas colônias, Angola, Moçambique e Guiné —os poucos nas ruas de Lisboa eram os mandados de volta, ainda de farda, sem um braço ou perna, perdido em combate. Era uma guerra impopular, que sangrava o país e que o governo mantinha com dinheiro tomado aos bancos. A imprensa, esmagada pela censura, mentia sobre o seu andamento —todos já a sabiam perdida. As moças, inexpugnáveis, viviam trancadas em casa. Os costumes eram do século 13.

Portugal era um belíssimo túmulo ao sol, mas nem o sol lhe servia para nada. Enquanto a Espanha, também uma ditadura, fervia de turistas, tudo conspirava contra eles em Portugal. Um visto de entrada era uma agonia. Até a Coca-Cola era proibida. Todos os dias tinham a modorra dos domingos.

Não é que Portugal seja hoje outro país. É outro planeta.

 

 

3 comentários:

Anônimo disse...

Mas se você teve recentemente viu que a migração aberta e desenfreada está levando a uma situação social difícil com aumento de criminalidade , pessoas vivendo em situações insalubres verdadeiros cortiços proliferando pelas cidades, principalmente os imigrantes africanos
O Partido chega faz muito bem em ter essa política da migração como uma das principais questões a ser discutida
O partido conservador Liberal de direita Chega, tinha duas cadeiras na câmera portuguesa , nessas últimas eleições passou para 50
O fenômeno que observamos na Europa é irreversível , o povo deu um basta na política autoritária e demagógica dos governos de esquerda

ADEMAR AMANCIO disse...

Os dias de domingo são modorrentos mesmo,rs.

Anônimo disse...

Aumentaram o número de cadeiras porque muitos bolsonaristas que vieram morar em Portugal votaram nesta eleição. Os Portugueses não esqueceram do Salazarismo. O aumento da extrema direita na europa se deve a falta de informação e alienação das novas gerações.