O Globo
As reações voluntaristas de Moraes para tentar dobrar seu adversário Musk resultaram em decisões jurídicas questionáveis, que deixaram 22 milhões de brasileiros fora do ar
O convite do presidente Lula para que o
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes assista ao
desfile de 7 de setembro no palanque oficial, em resposta à manifestação
bolsonarista contra o magistrado marcada para o mesmo dia na Avenida Paulista,
é um erro político. Permite aos adversários ver nele a confirmação de que as
ações de Moraes correspondem a um jogo em comum acordo com o Planalto.
O que deveria ser uma disputa jurídica ganhou contornos políticos, para gosto de Elon Musk. As reações voluntaristas de Moraes para tentar dobrar seu adversário Musk resultaram em decisões jurídicas questionáveis, que deixaram 22 milhões de brasileiros fora do ar. Pouca gente ficará a favor de Musk, ou de Moraes, por questões de patriotismo. Trata-se aqui de impedir que uma das redes sociais mais usadas pelo brasileiro em seu dia a dia esteja a nosso alcance, por visões políticas que nada têm a ver com a maioria dos usuários.
Como as decisões de Moraes são sigilosas, só
ele sabe em que se baseou para exigir o banimento de perfis da rede. Nem mesmo
seus próprios colegas de toga têm ideia. Tornou-se um juiz acima dos demais
pares, lugar a que foi erguido por uma decisão monocrática do presidente do STF
à época do início do inquérito sobre fake news. A partir daí só fez aumentar
seu poder, com acobertamento dos colegas.
Como todo ser humano sem limitações legais,
acertou mais do que errou, talvez, mas cometeu erros que põem hoje o Supremo em
suspeição perante a sociedade e a opinião internacional. Visto sem as neuroses
criadas pelas questões internas, muitas das decisões de Moraes são abusivas.
Deduzir que a Starlink e o X fazem parte de um “grupo econômico de fato”, daí
bloquear as contas de uma para pagar as multas da outra, é uma decisão jurídica
no mínimo questionável.
Decretar multa de R$ 50 mil para um
brasileiro que use VPN para acessar o X noutro país, além de impraticável, é
medida autoritária que incomoda qualquer cidadão que preze sua liberdade.
Transforma qualquer cidadão num criminoso clandestino fugindo de um ditador
onipresente. Equiparar o Brasil a países ditatoriais que baniram o X, como
Coreia do Norte ou Irã, pode ser injusto porque a razão dessas ditaduras foi
banir um canal de informação que permitia ao povo se inteirar dos
acontecimentos do mundo. Aqui, a questão é outra, embora tenha desaguado no
mesmo mar autoritário.
O X saiu do ar porque não indicou
representante legal para atuar no Brasil, o que é contra a lei. A consequência,
porém, foi a mesma, tão indiscriminada quanto nos países ditatoriais. Os
brasileiros ficaram proibidos de acessar o X porque um grupo de militantes
políticos o usava para criticar as autoridades do Supremo e de outros Poderes.
Muitas vezes até pregando medidas antidemocráticas.
A discussão travou-se então entre os limites
dessa atuação, mas de maneira desigual. Moraes determinava quem deveria ser
punido, e não havia recurso fora de sua esfera para que a decisão fosse
contestada. O banimento de perfis, como já escrevi, é censura prévia. Os
ataques, por mais grosseiros, passaram a ser tratados como ameaças concretas à
democracia, assim como vaias ou discussões em áreas públicas.
Com os acontecimentos de 8 de janeiro de
2023, os antigos tuítes passaram a ser vistos como parte da mesma tentativa de
golpe, e as punições passaram a ser indiscriminadas. Não tenho dúvida de que o
que aconteceu no 8 de Janeiro foi uma tentativa de golpe. Mas, uma vez superada
pela ação da maioria democrática, com o auxílio fundamental do Supremo,
precisamos voltar à normalidade e rever os critérios que criminalizam as
idiotices espalhadas nas redes. Não precisamos de salvadores da pátria para nos
proteger de ilegalidades com ilegalidades.
4 comentários:
O colunista faz que não entendeu que a plataforma é PROPRIEDADE de Musk, um criminoso que se recusa a seguir as leis do nosso país! Nossa Justiça não pode permitir a continuidade das AÇÕES CRIMINOSAS do delinquente fanfarrão.
Elon Musk não é dono da Starling é sócio com muito outros , e os sócios vão se prejudicar o O jornalista Merval Pereira é preciso em dizer que nós não podemos aceitar uma pessoa cometendo atos ilegais pra defender a democracia Hoje o ministro Alexandre de Moraes acumula ilegalidade na suas atitudes e ele como sendo membro do STF Tem como dever legal de zelar pela nossa constituição e não burlar e agredir-la todos os dias
A plataforma X (antigo Twitter) é PROPRIEDADE de Musk, um criminoso que se recusa a seguir as leis do nosso país! Musk é o único dono, MANDA E DESMANDA na sua propriedade PARTICULAR! Se os sócios de outra empresa, a Starlink, se associaram a um CRIMINOSO, vão realmente se prejudicar, como acontece com qualquer cidadão que se associa a um BANDIDO.
Façam o M,de Moraes.
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