sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

O liberalismo e a radicalidade democrática - Ivan Alves Filho*

O liberalismo político é um patrimônio da civilização. Não pertence a uma classe social nem a um país determinado. Ele resulta das lutas da sociedade civil para se afirmar diante do Estado, materializando ou encarnando os anseios da Cidadania e do indivíduo por liberdade de ação. O habeas corpus tem dois mil anos, data da Roma Antiga, e um teórico do liberalismo como Locke desenvolveu suas propostas um século antes da Revolução Industrial, do advento portanto da burguesia moderna. O liberalismo demonstra no que a sociedade é sempre maior que o Estado. 

As conquistas do liberalismo são conquistas populares, como o sufrágio universal, a liberdade de associação e a liberdade de imprensa ou opinião. A I Internacional tinha perfeita noção disso. Talvez seja o caso de retomarmos algumas de suas lições.  

O dado mais significativo da cena política hoje é o desalinhamento cada vez mais evidente entre a Democracia liberal e o capitalismo. Os novos setores da burguesia, aqueles ligados à automação, à robótica e às plataformas digitais começam a indicar claramente que a Democracia liberal já não atende ou corresponde mais aos seus objetivos. O dramático para a consciência democrática é que esses são os setores de ponta da economia hoje. A ascensão da extrema-direita em várias partes do mundo materializa isso. As alianças entre os Estados Unidos de Donald Trump e a Rússia de Vladimir Putin revelam isso. A China, ainda não sabemos muito bem para onde vai, mas a tradição democrática nunca foi seu forte, historicamente. 

Uma razão a mais para que o Campo Democrático se recomponha e fique atento ao que se passa ao seu redor. Sintomaticamente, tanto o populismo dito de direita quanto o dito de esquerda possuem em comum o mesmo desprezo pela Democracia liberal. Isso é extremamente preocupante. O Campo Democrático precisa, urgentemente, se apoderar do liberalismo. Tenho afirmado que alguns são mais democratas no plano político e outros mais democratas no plano social e econômico. Contudo, há um chão democrático comum. E é esse chão que cimentará a aliança dos democratas contra o totalitarismo que renasce por toda parte. 

Teremos uma excelente oportunidade de desenvolver isso nas próximas eleições presidenciais. O passo inicial é a construção de um projeto de nação tomando por base a Democracia em todas as suas dimensões. E aqui recordo o saudoso Sérgio Arouca, que compreendia o valor daquilo que denominava por radicalidade democrática. Isto é, uma Democracia ao mesmo tempo política, econômica, cultural, educacional e social.

*Ivan Alves Filho, historiador. 

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