Para uma vida de merda 
nasci em 1930 
na rua dos prazeres 
Nas tábuas velhas do assoalho 
por onde me arrastei 
conheci baratas, formigas carregando espadas 
caranguejeiras 
que nada me ensinaram 
exceto o terror 
Em frente ao muro negro no quintal 
as galinhas ciscavam, o girassol 
Gritava asfixiado 
longe longe do mar 
(longe do amor) 
E no entanto o mar jazia perto 
detrás de mirantes e palmeiras 
embrulhado em seu barulho azul 
E as tardes sonoras 
rolavam 
sobre nossos telhados 
sobre nossas vidas . 
Do meu quarto 
ouvia o século XX 
farfalhando nas árvores lá fora. 
Depois me suspenderam pela gola 
me esfregaram na lama 
me chutaram os colhões 
e me soltaram zonzo 
em plena capital do país 
sem ter sequer uma arma na mão. 
(Buenos Aires, 1975) 

 
 
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