Já conheço os passos dessa estrada/ sei que não vai dar em nada/ seus segredos sei de cor.
Diante de mais uma ameaça do PMDB de romper a aliança com o PT, ainda que agora cantada em tom maior por Eduardo Cunha, o líder do partido do vice-presidente Michel Temer na Câmara, os petistas mais graduados devem estar sussurrando os versos de Chico e Jobim pelos corredores.
Os segredos são muito pouco secretos: o partido que um dia foi do dr. Ulysses quer “mais respeito” do seu aliado plenipotenciário, e mais respeito em peemedebês castiço pode ser traduzido, com pouca chance de erro, por mais cargos e,no caso específico, por menos vetos do sócio às suas candidaturas aos governos estaduais.
Joga-se um complexo jogo de xadrez político entre o partido que está no poder e seu maior avalista porque cada um quer aumentar sua esfera de influência para depender menos do outro.
Não fossem ingredientes picantes como o histórico fisiologismo do PMDB desde que trocou suas raízes democráticas pelo seu vício embriagador pelo poder, e a prepotência do partido da presidente agravado pela falta de jogo de cintura da principal protagonista, seria apenas o reflexo de uma luta por espaços políticos, normal numa democracia, principalmente quando estão em disputa projetos diferentes de país.
O que acontece é que há uma diferença nem tão sutil assim entre projetos de país e projetos de poder.
Até prova em contrário, do que se trata aqui é de projetos de poder, de ocupação de espaços, é de poder de traficar influências.Se há algum princípio envolvido, os contendores conseguem disfarçá-lo muito bem.
O líder do PMDB Eduardo Cunha postou no seu Twitter que “a cada dia que passo me convenço mais que temos que repensar esta aliança ,porque não somos respeitados pelo PT”.
Ele reagia a uma suposta declaração de Rui Falcão, presidente do PT, segundo a qual a ameaça do PMDB de formar um “bloco independente” tinha a ver com um ministério que o partido de Temer queria e não recebeu.
Depois, como convém e como é de praxe, Eduardo Cunha esclareceu, ao vivo, sem tentar limitar seu pensamento aos 140 caracteres do Twitter, que esse “repensar” não tem nada a ver com romper. Repensar, significa, em seu vernáculo, como esclareceu, “rediscutir os termos dessa aliança”.
A operação panos quentes, articulada daqui e dali pelas eminência pardas dos dois partidos, só foi empanada pela falta de sutileza do presidente do PT do Rio, Washington Quaquá – que não se perca pelo nome – que chamou o líder do PMDB de “bocudo”.
Um dos infalíveis interlocutores de Lula que os jornais guardam para só usar nos grandes momentos, teria dito a um repórter da Folha que o ex-presidente teria criticado a sua representante por estar sendo “pouco hábil” nesse embate com o PMDB.
Como Chico e Tom ele já conhece os passos dessa estrada.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez e "Armênio Guedes, Sereno Guerreito da Liberdade"(editora Barcarolla).
Fonte: Blog do Noblat
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