Mônica Bergamo – Folha de S. Paulo
Lula tenta jogar um banho de água fria na discussão interna do PT sobre a possibilidade de o partido erguer a bandeira das "Diretas Já" antes mesmo do fim do julgamento de Dilma Rousseff no Senado. Ele diz que a iniciativa teria que partir da própria presidente. E que, pelo que conhece da petista, ela "dificilmente" concordaria com a ideia.
Em frente
No governo, no entanto, a discussão segue firme, com alguns dos principais ministros tentando convencer Dilma de que as "Diretas Já" dariam a ela o melhor discurso se for afastada em maio para esperar pelo julgamento do impeachment no Senado. De acordo com integrante do PT, ao contrário do que imagina Lula, ela já estaria aceitando conversar sobre o assunto.
Eu aceito
Pela proposta, Dilma não renunciaria e seguiria clamando por um processo "justo". Mas reconheceria que, diante da crise de governabilidade, só mesmo eleições diretas para recolocar o país no rumo. Para isso, ela aceitaria reduzir o próprio mandato em dois anos, convocando eleições presidenciais para outubro, junto com as municipais.
Na parede
A proposta ainda "emparedaria" Michel Temer, de acordo com um ministro, e uniria os partidos que têm votos e são competitivos para disputar uma eleição presidencial, como a Rede de Marina Silva. Ela aparece empatada tecnicamente com Lula –segundo o Datafolha, ambos têm em torno de 20% dos votos, em diferentes cenários. Temer tem 2%.
Ideia nossa
As "Diretas Já" poderiam seduzir ainda setores do PSDB. "Ficaríamos também emparedados, já que sempre defendemos as eleições", diz à coluna um senador tucano.
Já era
Na reunião em que o tema das eleições foi abordado, com dirigentes e senadores do PT, há alguns dias, Lula ouviu que o impeachment de Dilma já está praticamente sacramentado no Senado.
Já era 2
"Não há a menor chance de vitória", diz o senador Roberto Requião (PMDB-PR), aliado de primeira hora do PT na batalha contra o impeachment. "A saída é a Dilma convocar as eleições diretas. Ou, ao invés de um plano econômico aprovado pela população, teremos outro feito por banqueiros no gabinete do Temer, que não tem votos."
Urna fechada
A proposta enfrentaria polêmica, já que Temer também teria que concordar em abrir mão de anos de mandato. No Senado, aliados dele já combatem a ideia. Num debate sobre o tema, nesta terça (19), a senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) dizia estar segura de que a população não está interessada em novas eleições.
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