- Folha de S. Paulo
Um em cada cinco americanos que se identifica como democrata ou republicano considera justificado o uso de violência se o seu partido perder
Cientistas
sociais de diferentes instituições de pesquisa dos Estados Unidos perceberam
que investigavam em paralelo a aceitabilidade da violência política por
cidadãos com forte identidade política.
Quando
reuniram seus bancos de dados, descobriram que o país vive uma onda crescente
de aceitação da violência política, o que pode culminar em uma explosão caso o
resultado das eleições presidenciais seja contestado por
uma das partes.
Em
artigo no site Politico,
os pesquisadores apresentaram números preocupantes: em setembro de 2020, cerca
de um terço dos americanos que se identificam como democratas ou como
republicanos considerava justificado o uso da violência para atingir objetivos
políticos (33% dos democratas e 36% dos republicanos). O índice era de apenas
8% em 2017, passou para 12% em 2018, depois para 15% em 2019 e dobrou para 30%
em junho de 2020, no contexto dos embates entre conservadores e progressistas
nos protestos do Black Lives Matter.
Os
pesquisadores estão particularmente preocupados com dados que sugerem que cada
episódio de violência política torna mais aceitável violência adicional, num
ciclo vicioso perigoso: logo após um episódio de violência política, a
aceitação geral da violência parece subir.
Nos
últimos meses, ações armadas dos dois campos resultaram em morte. Em agosto,
dois ativistas do Black Lives Matter foram mortos a tiros por um apoiador da
ação da polícia na cidade de Kenosha. Quatro dias depois, um militante de
extrema direita foi morto a tiros por um ativista antifascista em Portland.
Além
dessas mortes, casos de agressão se espalharam por todo o país no contexto dos
protestos.
Episódios
de violência armada também aconteceram em protestos contra as políticas de
isolamento social, como as diversas invasões da Assembleia Legislativa de
Michigan por ativistas de extrema direta pesadamente armados.
O
dado mais preocupante descoberto pelos pesquisadores mostra que um em cada
cinco americanos que se identificam como democrata ou como republicano
considera bastante justificada a violência se seu partido perder as eleições
presidenciais, em novembro (20% dos republicanos, 19% dos democratas).
Quanto
mais forte a identificação partidária, maior essa abertura à violência.
Como
Donald Trump insiste que o voto pelo correio pode
levar a uma fraude eleitoral, e Hillary Clinton recomendou ao candidato
democrata Joe Biden não reconhecer a derrota se o resultado for apertado, os
pesquisadores acreditam que sua preocupação com uma explosão de violência em
novembro é bastante pertinente.
*Pablo Ortellado, professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia.
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