domingo, 26 de novembro de 2023

José Roberto Mendonça de Barros* - A Europa busca se posicionar

O Estado de S. Paulo

A União Europeia tem forte interesse em aumentar seus acordos comerciais com outros países

A União Europeia é um dos três grandes polos do mundo, ao lado dos Estados Unidos e da China. Do ponto de vista econômico, é o menor, mas nem tanto assim: seu PIB a preços correntes é superior a US$ 16 trilhões, próximo dos US$ 18 trilhões da China e aquém dos US$ 25 trilhões dos EUA. Em paridade do poder de compra, a distância também é pequena: o PIB chinês é estimado ser da ordem de US$ 30 trilhões e o da União Europeia, US$ 24 trilhões (os dados são de 2022).

Embora a China e os Estados Unidos vivam desafios significativos, a União Europeia é uma região em busca de um novo posicionamento, pois está espremida entre os líderes da nova disputa hegemônica. Além disso, no período recente três das principais bases que explicam o formidável sucesso do projeto europeu de integração foram significativamente alteradas.

Em primeiro lugar, não será mais possível à Europa terceirizar ao poder militar americano sua garantia de segurança externa. Como ficou evidente com a invasão da Ucrânia pela Rússia, a região terá de expandir seus gastos militares para ser capaz de responder aos atuais desafios. A guerra aumentou a coesão entre os Estados nacionais, e a UE recebeu novos membros (Suécia e Finlândia), num processo que ainda não se encerrou.

Em segundo lugar, os países da Europa, em especial a Alemanha, decidiram há tempos depender da energia russa de forma determinante. A guerra na Ucrânia liquidou também essa alternativa, obrigando a região, que é importadora líquida de energia, a se socorrer de forma urgente de fontes mais caras, impondo um severo choque ao sistema econômico.

Finalmente, e isso vale especialmente para a nação germânica, o mercado chinês, que se transformou na grande fonte de sustentação das exportações industriais, está sendo abalado pela desaceleração do país e pelo quadro de disputa hegemônica entre Estados Unidos e China.

Nesse contexto, a União Europeia agora tem forte interesse em aumentar seus acordos comerciais com outros países.

Considerando sua ambição em avançar decididamente no processo de descarbonização, o acordo com o Mercosul se tornou bem importante pelo potencial da região em energia e combustíveis sustentáveis, bem como em minérios e metais, como o lítio.

Entretanto, entre as muitas dúvidas derivadas da eleição na Argentina, o posicionamento crítico de Milei frente ao Mercosul se destaca. Vamos ver o que ocorrerá na reunião entre os dois blocos, marcada para o próximo dia 7, três dias antes da posse em Buenos Aires.

*Economista e sócio da MB Associados

Um comentário:

Helion disse...

O autor se equivocou ao afirmar que, com a guerra, a "UE recebeu novos membros (Suécia e Finlândia)". Estes países já eram membros da União Europeia. Talvez o autor tenha querido se referir a adesão dos países a OTAN, essa sim relacionada a guerra.