domingo, 26 de novembro de 2023

Eliane Cantanhêde – Vivendo perigosamente

O Estado de S. Paulo

Lula vai brincar de petróleo com o sanguinário bin Salman às vésperas da COP 28?

O presidente Lula gosta de viver perigosamente e, em vez de usar a sabedoria da idade, reage de forma juvenil em questões sérias e de interesse do Brasil: Israel, Argentina, EUA, déficit zero, Petrobras e agindo com dubiedade em relação ao Supremo e até permitindo que o governo replique o bolsonarismo no ataque a jornalistas. O resultado vem nas pesquisas, num efeito bumerangue. O bolsonarismo está à espreita.

Vejam bem: Lula pretende se reunir com Mohammad bin Salman, ditador sanguinário da Arábia Saudita, maior exportadora de petróleo do mundo, justamente a caminho da COP 28, onde as mudanças climáticas e as fontes renováveis serão estrelas e o Brasil deve ser o centro das atenções. E isso vem num contexto de escorregões.

O que o Brasil, o governo e Lula ganham ao condecorar o embaixador da Palestina com a Ordem do Rio Branco bem no meio da guerra de Israel? E com essa birra com o presidente eleito da Argentina? Ok, Javier Milei é grosseiro e preocupante, mas foi eleito pelos argentinos e não cabe ao presidente do Brasil condenar e fazer birra.

Com EUA, Lula age como militante dos anos 1970, 1980, dando declarações e sinais pró Rússia e China, quando a própria China, muito mais pragmática, faz um movimento digamos, adulto, com Washington. Enfraquecer Joe Biden é fortalecer

Donald Trump, assim como guerrear com Milei é dar palanque para Jair Bolsonaro.

Após liberar ataques contra BC, nova âncora fiscal e déficit zero em 2024 – logo, contra Fernando Haddad –, Lula bate de frente com a Petrobras e seu presidente, Jean Paul Prates. Mais uma vez, PT contra PT. E o momento é tenso com o Congresso, pelo veto à prorrogação da desoneração da folha de pagamento, e com o STF, pelo voto do líder do governo, Jaques Wagner, no projeto do Senado sobre votos monocráticos na Corte.

E o “gabinete do ódio” da era bolsonarista continua, com outras caras? A reportagem do Estadão sobre “a dama do tráfico” no Ministério da Justiça é correta e relevante. Se a oposição fez um uso infame da informação, tentando, maliciosamente, crucificar o ministro Flávio

Dino e criar vínculos do PT com o tráfico, que descarreguem a munição na oposição. Mas no jornal? Numa jornalista séria e respeitada? Em repórteres que cumprem o seu papel?

É assim que só 9% do mercado financeiro aprova o governo, segundo a Genial/Quaest, apesar de Lula obter bons resultados na economia, patrocinar reformas estruturais que os antecessores nem tentaram, resgatar os laços do Brasil com o mundo e as prioridades sociais. “Além de ser honesta, a mulher de César precisa parecer honesta.” 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Não há comparação com o governo anterior,a perfeição não existe na terra.