domingo, 10 de janeiro de 2010

Tucano deixa anúncio para fim de março

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Governador só vai 'virar candidato' quando se mudar do Bandeirantes

Christiane Samarco, BRASÍLIA

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), planeja assumir oficialmente que é candidato a presidente da República apenas no final de março. Ele confidenciou a amigos que sua intenção é "virar candidato" no momento em que estiver se mudando do Palácio dos Bandeirantes, para que não haja conflito de interesses entre o presidenciável e o governador.

Pela Lei Eleitoral, Serra terá de cumprir o prazo de desincompatibilização de seis meses, visto que só os candidatos à reeleição em 3 de outubro estão dispensados de deixar o cargo na administração pública em abril. Diante dessa definição, o PSDB ficará sem candidato pelos próximos três meses. Mas isso não incomoda os líderes tucanos nem a direção partidária.

"Se o Serra vai se lançar hoje, ou daqui a cinco meses, já não é mais relevante. O importante é que a questão entre ele e o Aécio está resolvida, e bem resolvida", diz o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

Certos de que entraram em 2010 com o maior problema solucionado - a disputa interna entre o governador paulista e o mineiro Aécio Neves - os tucanos perderam a pressa de lançar a candidatura presidencial.

"Com diversas áreas do País debaixo d"água, é natural que o Serra só pense em governar São Paulo", defende o deputado Jutahy Júnior (BA). Serrista de primeira hora, ele enxerga dois fatos extremamente positivos na virada do ano: "Serra liderando todas as pesquisas eleitorais, sem dizer que é candidato, e o gesto elegante e de grandeza do governador Aécio, que se retirou da disputa de forma partidária e politicamente eficaz."

Na prática, a cúpula do PSDB está aliviada com o movimento feito por Aécio, que acabou com a indefinição sobre quem seria o candidato do partido e terminou com a angústia dos diretórios estaduais, que cobravam pressa na escolha do candidato para poderem montar acordos e os seus palanques regionais.

"O ambiente interno é de tranquilidade, porque o governador de Minas cumpriu a palavra no prazo acertado, com um discurso de estadista, e vai terminar seu governo consagrado", afirma Guerra.

O partido marchará sem candidato oficial até março, mas, a despeito disso, nem Aécio tem dúvida de que o nome é Serra. Um interlocutor do mineiro atesta que ele já "tirou da cabeça" a hipótese de voltar à disputa nacional pela desistência de Serra em disputar o Planalto e diz que a sua única preocupação, hoje, é não fazer nenhum movimento que denote má vontade para com o paulista.

O PSDB mineiro não quer ser o responsável por nenhuma má notícia relacionada à candidatura Serra. E isso não é tudo. Como houve muita queixa do ex-presidenciável tucano Geraldo Alckmin à falta de empenho de Minas em favor da candidatura dele contra a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o próprio Aécio tem consciência de que, em 2010, terá de trabalhar mais pela eleição do candidato PSDB. Todos estão de acordo em um ponto: o importante é vencer a eleição.

Como a conquista de Minas é fundamental, por se tratar do segundo maior colégio eleitoral do País, só atrás de São Paulo, a primeira reunião da Executiva Nacional do PSDB este ano será em Belo Horizonte, no fim do mês. O partido inaugura a agenda política prestigiando Aécio e seu candidato a governador, Antônio Anastasia (PSDB).

ALIANÇAS LOCAIS

A ideia, a partir de fevereiro, é fazer reuniões itinerantes da Executiva a cada mês, com o roteiro montado na medida em que as alianças estaduais forem se definindo. O tucanato entende que isso reforça os projetos estaduais, prestigia as regionais do partido e é útil porque não sobrecarrega a agenda do pré-candidato. A direção nacional também quer se aproximar das regionais intensificando o diálogo com os Estados.

"Em ano de eleição, as tensões estão mais explícitas, todo mundo tem ideias, quer opinar e ser ouvido pela direção do partido. O movimento já está sendo forte porque muita gente no Brasil, não apenas no PSDB, quer que Serra ganhe esta eleição", afirma Guerra.

Como a direção concorda com Serra na tese de que apressar o lançamento da candidatura só serviria para transformá-lo em alvo oficial do PT e demais adversários, a ordem é preservar o governador até lá. A tática neste primeiro trimestre de 2010 é dar suporte ao candidato, intensificando a atuação parlamentar das bancadas na oposição ao governo Lula no Congresso.
Essa ação deverá se dar de forma articulada com Serra.

"Temos de criar fatos novos, porque do lado do governo toda a estrutura de apoios está montada", avalia Jutahy. A despeito da comemoração do PT pelo bom desempenho da ministra e candidata Dilma Rousseff, que alcançou o patamar dos 20% de preferência do eleitorado antes do final do ano, os tucanos não se intimidam. "Com os governadores aliados todos em campanha, divulgando Dilma, isso é natural. É óbvio que, sendo de oposição, nossos candidatos só vão crescer ao longo do processo, especialmente no Nordeste", pondera ele, confiante em que Serra ampliará seu apoio a partir do momento que lançar a candidatura em São Paulo.

CALENDÁRIO ELEITORAL

3 de abril: Limite para desincompatibilização (período em que os futuros candidatos a cargos eletivos devem deixar de exercer cargos ou funções públicas, ou as funções em empresas e instituições que mantenham relação com a Administração Pública)

10 a 30 de junho: Período em que os partidos podem realizar convenções para escolha de seus candidatos

5 de julho: Data limite para registro de candidaturas no TSE

6 de julho: Início da propaganda eleitoral

14 de julho: Último dia para os partidos políticos constituírem os comitês financeiros, observado o prazo de 10 dias úteis após a escolha de seus candidatos em convenção

17 de agosto: Início do período da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV

30 de setembro: Último dia para divulgação de propaganda eleitoral gratuita e em páginas institucionais na internet e para realização de comícios e debates

3 de outubro: Primeiro turno

16 a 29 de outubro: Período para propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV

31 de outubro: Segundo turno

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