segunda-feira, 26 de abril de 2010

Oposição se une contra Chávez

DEU EM O GLOBO

Primárias ocorridas ontem visam a indicar candidatos parlamentares únicos

Mariana Timóteo da Costa, Correspondente


CARACAS. A oposição estima que mais de um milhão de eleitores compareceram ontem às urnas em oito dos 24 estados da Venezuela que realizaram primárias para escolher candidatos à Assembléia Nacional nas eleições de 26 de setembro.

A votação, inédita no país, foi convocada depois que a oposição resolveu apresentar uma lista única de candidatos a vagas de deputado, numa tentativa de unir forças contra o governo de Hugo Chávez. Em um terço dos estados não houve consenso sobre a lista e, então, a população foi chamada para escolher os nomes em diversas zonas eleitorais.

— A votação foi um sucesso.

Estimamos que 10% ou mais dos 16 milhões de eleitores da Venezuela (numa população de 26 milhões) foram às urnas. E isso somente em um terço de nossos estados. Unir forças é a melhor maneira de combater a desigualdade que o chavismo impôs a nosso sistema eleitoral — disse ao GLOBO Delza Solórzano, dirigente do Um Novo Tempo, o maior partido de oposição do país.

Dezesseis partidos políticos e 42 outros movimentos compõem a chamada Mesa da Unidade Democrática (MUD), responsável pelas primárias. De acordo com uma lei aprovada em 2009 pelo Parlamento dominado por chavistas — já que a maior parte da oposição desistiu de participar do pleito em 2005 —, os partidos só podem apresentar 167 candidatos cada um; o número exato de cadeiras na assembleia. Para a oposição, isso tornou a votação extremamente desigual porque já dá, de antemão, vantagem ao PSUV (o partido de Chávez, que realizará suas primárias em 2 de maio).

— E enquanto nas nossas primárias qualquer um pode votar, nas do PSUV só votam filiados ao partido — lembra Solórzano, que foi nomeada candidata a uma das 13 vagas que a Venezuela tem direito no Parlamento Latino-americano, eleição que também será decidida em 26 de setembro.

Numa escola localizada no bairro de Altamira, em Caracas, o comerciante José Pita, de 54 anos, esperava pacientemente na fila há uma hora: — As primárias são um exemplo da democracia que desejamos para o nosso país. É verdade que as armas que temos são desiguais, mas espero que o voto vença. Se a oposição tivesse se unido antes, Chávez não estaria onde está.

Ontem, em seu programa dominical “Alô Presidente”, Chávez não fez mais comentários sobre a votação. O presidente mencionou a viagem que fará ao Brasil esta semana, para encontrar-se bilateralmente com o colega de cargo Luiz Inácio Lula da Silva, a quem se referiu como amigo.

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