João Domingos
BRASÍLIA - Os afagos que a presidente Dilma Rousseff vem fazendo no governador de Pernambuco, Eduardo Campos, como o almoço na Base Naval de Aratu, em Salvador, no último sábado, serviram para selar a permanência do PSB na base parlamentar do governo no Congresso durante este ano. Mas não conseguiram ainda tirar do também presidente nacional do PSB o compromisso de que ele não disputará a Presidência da República no ano que vem.
Uma coisa é o acordo para evitar conflagrações num ano em que a presidente busca sossego para fazer um terceiro ano de governo voltado para a consolidação das obras de infraestrutura e costura de uma base aliada sólida que possa garantir sua reeleição; outra é a disputa presidencial, confidenciou ao Estado um interlocutor de Eduardo Campos. No almoço de sábado ficou decidido que o PSB evitará qualquer tipo de ataques ao governo.
O governador de Pernambuco é visto no meio político como um potencial candidato à Presidência, ou em 2014 ou em 2018, o que preocupa o PT. Correligionários de Campos não escondem que o PSB, partido que mais cresceu proporcionalmente nas eleições municipais do ano passado, tem a pretensão de conquistar a vaga de vice-presidente numa reeleição de Dilma em 2014 como um trampolim político para credenciar Eduardo Campos para um voo solo.
Campos vinha fazendo críticas à política econômica do governo Dilma. Em entrevista ao Estado em 17 de dezembro, o governador disse que a presidente terá de retomar o crescimento econômico de forma urgente no primeiro trimestre. Caso contrário, previu, terá perdido todo o ano de 2013.
O governador da Bahia, Jaques Wagner(PT), também participou da conversa. Estavam presentes no almoço, ainda, as mulheres dos dois governadores, a mãe da presidente Dilma, sua filha Paula e o neto Gabriel.
Os dois governadores chegaram à Base Naval de helicóptero, por volta do meio-dia. Saíram às 19 horas. De acordo com assessores de Campos e Wagner, Dilma quis fazer do almoço um encontro familiar, com conversas amenas. Mas falaram também de política. E muito.
Wagner defende a ideia de dar a Campos a vaga de vice na chapa de Dilma Rousseff nas eleições de 2014. O problema é que o dono da vaga hoje é o PMDB, o principal aliado do governo. E o presidente do partido, também vice-presidente da República, Michel Temer, já disse que o PMDB está comprometido com a chapa de Dilma Rousseff no ano que vem. E que só pensará em candidatura própria em 2018.
Pressões. Campos vem sofrendo pressão dentro do próprio partido, por parte de empresários importantes e também de oposicionistas, para sair candidato a presidente no próximo ano. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já o procurou para dizer que deve deixar uma possível candidatura para 2018, garantindo-lhe apoio do PT.
No final do ano, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) afirmou que 2018 será de fato a vez de Campos. E que o PT não lançará candidato. Mas Campos não confia nessa promessa nem acha que os petistas vão desistir de lançar candidato próprio.
Sedução tucana. Na tentativa de manter Eduardo Campos longe da oposição, especialmente do senador Aécio Neves (PSDB), com quem o pernambucano tem ótima relação. a presidente Dilma tem atendido a todos os pedidos do governador. Além da liberação de R$ 1 bilhão para Pernambuco executar a construção de um canal que vai transportar água do Rio São Francisco para o agreste pernambucano, a presidente garantiu o financiamento de cerca de R$ 2,4 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) para construção de fábrica da Fiat no Estado.
Câmara. No acordo para não criar marolas com o governo federal, Eduardo Campos comunicou à presidente Dilma Rousseff que a candidatura do deputado Júlio Delgado (MG) à presidência da Câmara não tem o apoio da direção nacional do PSB. Trata-se, segundo os esclarecimentos de Campos, de uma candidatura avulsa do deputado.
O governador tem dito que essa candidatura não garante nenhuma vantagem para o PSB e partiu de um desejo pessoal de Delgado e assim vai continuar. O governo apoia a candidatura do peemedebista Henrique Eduardo Alves (RN). Ainda que a disputa no Congresso tenha sido aparentemente contida, o mesmo não se pode dizer sobre as articulações políticas para 2014.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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