O Globo
Dá vergonha mesmo de ser brasileiro diante
de um comportamento tão escrachado de um militar graduado assessor de um
presidente da República
O que não faria Carlos Manga, o mais
icônico diretor de chanchadas da Atlântida, ou Woody Allen, que no filme
"Bananas" mostra um bando de guerrilheiros pedindo 300 sanduíches
numa cidade do interior de um país sul-americano, ironizando o que aconteceu em
Ibiuna no Congresso clandestino da UNE em 68, se tivessem nas mãos o seguinte
roteiro: um tenente-coronel do Exército brasileiro, ajudante de ordens do
presidente da República, negociando a venda de um relógio de luxo que recebeu
de presente de um governo estrangeiro? Mais: que um hacker estelionatário se
reuniu com militares no Ministério da Defesa para ajudá-los a montar uma
estratégia para provar que as urnas eletrônicas eram violáveis?
O papel dos militares no governo Bolsonaro ganha cada vez contornos mais bizarros, sem que o ministério da Defesa assuma oficialmente uma repulsa a comportamentos que desonram a corporação. Justamente por questões corporativas, não há o rigor que costuma ocorrer quando regulamentos são descumpridos.
O caso do Tenente-Coronel Mauro Cid é
exemplar. Filho de família de militares, ele aparece a cada dia com ações
desmoralizantes, sendo a venda do Rolex incrustado com diamantes o ponto alto
até agora. Anteriormente, o escândalo das joias recebidas por Bolsonaro como
presente de Estado, e de que o então presidente da República tentou tomar
posse, parecia ser imbatível.
O empenho em resgatar as joias confiscadas
pela Receita Federal por não terem entrado no país de maneira legal - na
mochila de um assessor ministerial - indicava a intenção de se apossar delas.
Até um avião da FAB foi enviado para São Paulo com um assessor para pressionar
a Receita a liberá-las. Mas, negociar a venda do Rolex incrustado de diamantes
através de troca de mensagens parece além da imaginação. Invenção de um diretor
criativo para reforçar a crítica a uma autoridade.
Mas aconteceu de verdade, dá vergonha
alheia de ler. Aliás, não é vergonha alheia, é vergonha mesmo de ser brasileiro
diante de um comportamento tão escrachado de um militar graduado assessor de um
presidente da República.
Outra situação degradante é a atuação do
hacker Walter Delgatti, que ficou famoso por ter conseguido, por meios ilegais,
diálogos entre os procuradores de Curitiba e o então juíz da Lava-Jato Sérgio
Moro. Transformado em ídolo da esquerda brasileira, comparado a Edgard Snowden,
que trabalhou na CIA e na NSA e revelou programas de vigilância global dos
Estados Unidos, Delgatti foi preso, mas os diálogos conseguidos de maneira
ilegal serviram de base para a campanha de desmoralização da Operação Lava-Jato
e anulação das condenações de Lula, permitindo que ele saísse da prisão e
concorresse às eleições de 2022.
As voltas que o mundo dá: Bolsonaro, que
passou a campanha inteira chamando Lula de “descondenado”, acusando os que
criticavam a Lava-Jato, e tendo a seu lado como conselheiro o ex-juiz Sérgio
Moro, no governo ajudara a acabar com o combate à corrupção para proteger os
seus, levando Moro a se demitir. Derrotado por Lula, Bolsonaro, ainda presidente,
aproximou-se de Delgatti através da deputada Carla Zambelli.
Pelos relatos, elogiou-o por ter
desmoralizado a Lava-Jato, e pediu sua ajuda para provar que as urnas
eletrônicas eram vulneráveis. Mandou que o Coronel Câmara, um de seus
assessores no gabinete presidencial, levasse “o garoto” ao ministério da
Defesa, que àquela altura organizara uma comissão teoricamente para ajudar o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a superar dúvidas sobre as urnas. Na prática,
desconfiava-se na ocasião e sabe-se agora, a Comissão militar tinha o objetivo
de provar a inviabilidade das urnas eletrônicas.
Delgatti, ressentido com o que considera
uma desfeita do PT, que não soube agradecer o serviço prestado por ele para
soltar Lula, aliou-se a Bolsonaro e ajudou o ministério da Defesa, segundo seu
relato que constará de uma delação premiada, a montar um documento com várias
perguntas que colocavam em xeque a inviolabilidade das urnas. O que dizer de um
hacker condenado ter acesso a uma comissão especial do ministério da Defesa?
4 comentários:
Há alguma forma de explicar Sérgio Moro?
▪Há uma forma de escrever em tamanho insuportavelmente pequeno o nome de alguém que fez um trabalho muito grande e importante para o pais no combate à corrupção e que depois mostrou-se do mesmo tamanho que os anões morais que combateu ao apareceu misturado como farofa à facção criminosa adversária?
Moro é contra a corrupção só se for da esquerda.
Sim; moro só é contra a corrupção quando é de esquerda! E quem se diz "de esquerda" no Brasil só era contra a corrupção quando era a do que eles acham (ou preferem dizer) que é a direita.
Os ingênuos estão desculpados ; os cínicos, merecem o nosso desprezo!
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