O Estado de S. Paulo
Em 2007, durante a visita do presidente
George W. Bush ao Brasil, o presidente Lula chegou a dizer que buscava “o ponto
G nas relações do Brasil com os Estados Unidos”.
Bush passou a impressão de que não entendeu
bem o que Lula quis dizer com esse “ponto G”, mas as burocracias interpretaram
que se tratava de encontrar certo equilíbrio na administração dos interesses
recíprocos nem sempre convergentes que, ao mesmo tempo, não dispensasse efeitos
satisfatórios.
O presidente Donald Trump, que acaba de tomar posse, mostrou que não faz questão do uso da linguagem diplomática. Declarou, na Casa Branca, que “o Brasil precisa mais dos Estados Unidos do que os Estados Unidos precisam do Brasil”. É postura que complica a procura do tal “ponto G” pelo presidente Lula, que declarou antes do fim da disputa eleitoral a sua preferência pela candidata Kamala Harris.
Por mais pragmática que pretenda ser a
relação do governo Lula com os Estados Unidos, numa situação em que Trump
produz uma reviravolta na sua política externa, chegará o dia em que será
inevitável que o governo brasileiro assuma o lado oposto em uma fieira de
questões, como as da rejeição unilateral dos Estados Unidos ao Acordo de Paris,
a da saída da Organização Mundial da Saúde e a da anunciada intervenção
americana no Canal do Panamá.
Não são os únicos temas em torno dos quais o
governo Lula tenderá a trombar com a política externa de Trump. Ele já avisou
que não vai admitir que os países-membros do Brics, sigla encabeçada pelo
Brasil, descartem o dólar como moeda de transação, como já defendido pelo
governo Lula. Anunciou uma política protecionista no comércio exterior que pode
prejudicar as exportações do Brasil. Advertiu que não admitirá a taxação das
multinacionais ou dos multibilionários, projeto advogado pelo governo Lula.
Além disso, Trump deu demonstrações de que exigirá liberdade total nas
manifestações veiculadas pelas redes sociais, o que também contraria a política
do presidente Lula de criar regulações para essas plataformas.
Na condição de animal político, Lula tenderá
a ficar ainda mais preocupado se a política externa do governo Trump, pilotada
pelo político de origem cubana Marco Rubio, passar a favorecer o jogo da
direita no Brasil, a ponto de comprometer o resultado das eleições de 2026,
temporada que já começou, conforme afirmou o presidente em sua reunião do
ministerial na última segunda-feira.
No mar turbulento, o importante não é tentar
controlar os ventos, mas fortalecer o navio. O que de melhor o presidente Lula
pode fazer não é limitar suas ações ao campo diplomático, para que localize o
novo “ponto G” nas relações com os Estados Unidos, embora isso também ajude. É
fortalecer a economia por meio do saneamento das contas públicas, das reformas
de base e de ampliação do acesso do produto brasileiro ao mercado externo.
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