CONTRA A REVISÃO NA LEI DA ANISTIA
Luiz Carlos Azedo
Luiz Carlos Azedo
Da equipe do Correio
Proposta de integrantes do governo de mudar regras para punir militares que torturaram presos políticos é qualificada como inoportuna por ex-guerrilheiros
Um dos poucos remanescentes da “turma da pesada” da antiga Aliança Libertadora Nacional (ALN) — a organização guerrilheira comandada pelo ex-deputado Carlos Marighella, morto pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury durante a chamada Operação Bandeirantes —, o ex-guerrilheiro Takao Amano considera inoportuna a discussão sobre a revisão da anistia para punir os militares que torturaram presos políticos. Segundo ele, “há uma polêmica jurídica sobre o assunto, porque a tortura é considerada crime hediondo pela Constituição e, para alguns autores, estaria fora do abrigo da Lei de Anistia”.
Para Amano, porém, a questão é política: “O passado sempre volta à tona, esse assunto inevitavelmente será debatido um dia, por causa da abertura dos arquivos da repressão e da questão dos desaparecidos, mas não há condições políticas para a revisão da Lei de Anistia. Essa polêmica é até um teste para a nossa democracia, precisa ser encarada sem revanchismo”, avalia.
Discreto e modesto advogado trabalhista, que aos 61 anos divide o tempo entre os departamentos jurídicos dos sindicatos dos médicos e dos padeiros de São Paulo, Amano é um ex-banido pelo regime militar. Foi trocado pelo embaixador suiço Giovanni Enrico Bucher, sequestrado em dezembro de 1970, numa operação comandada pelo ex-capitão Carlos Lamarca, juntamente com outros 69 presos políticos que foram embarcados de avião para o Chile. Exilado em Cuba, fez autocrítica da luta armada e voltou para o PCB. Durante quase 10 anos, Amano vagou pelo mundo como Francisco Mendes, o “El Chino”, um funcionário da Federação Mundial da Juventude Democrática.
Seqüestro
Exímio atirador, Amano foi um dos dois subcomandantes do Grupo Tático Armado, o GTA, da ALN, chefiado por Virgílio Gomes da Silva, o “Jonas”, que comandou o seqüestro de Elbrick. Os integrantes do GTA tinham por características resistir à prisão a tiros. Num tiroteio em Suzano, durante um assalto a banco, Amano foi baleado, mas conseguiu fugir e foi operado clandestinamente. Em outro, na Alameda Campinas, acabou baleado e preso pelos órgãos de segurança, juntamente com Luís Augusto Fogaça Balboni, que morreu no hospital, e Carlos Lichtszejn, também ferido. Durante aquele ano de 1979, o GTA e seu grupo de apoio logístico da ANL foram desbaratados. “Jonas”, Marighella e, depois, Joaquim Câmara Ferreira, o “Velho”, todos dissidentes do antigo PCB, acabaram mortos.
A opinião de Amano coincide com a do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que fez treinamento de guerrilha em Cuba, mas não participou de ações armadas. No seu blog, o ex-ministro qualificou de “erro grosseiro” de membros do governo, particularmente do ministro da Justiça, Tarso Genro, a reabertura da discussão sobre a Lei da Anistia. Para Amano, o debate sobre o assunto pode ter sido precipitado por causa da luta interna no governo, já que a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, ex-guerrilheira da Var-Palmares, é a preferida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sucedê-lo em 2010.
Proposta de integrantes do governo de mudar regras para punir militares que torturaram presos políticos é qualificada como inoportuna por ex-guerrilheiros
Um dos poucos remanescentes da “turma da pesada” da antiga Aliança Libertadora Nacional (ALN) — a organização guerrilheira comandada pelo ex-deputado Carlos Marighella, morto pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury durante a chamada Operação Bandeirantes —, o ex-guerrilheiro Takao Amano considera inoportuna a discussão sobre a revisão da anistia para punir os militares que torturaram presos políticos. Segundo ele, “há uma polêmica jurídica sobre o assunto, porque a tortura é considerada crime hediondo pela Constituição e, para alguns autores, estaria fora do abrigo da Lei de Anistia”.
Para Amano, porém, a questão é política: “O passado sempre volta à tona, esse assunto inevitavelmente será debatido um dia, por causa da abertura dos arquivos da repressão e da questão dos desaparecidos, mas não há condições políticas para a revisão da Lei de Anistia. Essa polêmica é até um teste para a nossa democracia, precisa ser encarada sem revanchismo”, avalia.
Discreto e modesto advogado trabalhista, que aos 61 anos divide o tempo entre os departamentos jurídicos dos sindicatos dos médicos e dos padeiros de São Paulo, Amano é um ex-banido pelo regime militar. Foi trocado pelo embaixador suiço Giovanni Enrico Bucher, sequestrado em dezembro de 1970, numa operação comandada pelo ex-capitão Carlos Lamarca, juntamente com outros 69 presos políticos que foram embarcados de avião para o Chile. Exilado em Cuba, fez autocrítica da luta armada e voltou para o PCB. Durante quase 10 anos, Amano vagou pelo mundo como Francisco Mendes, o “El Chino”, um funcionário da Federação Mundial da Juventude Democrática.
Seqüestro
Exímio atirador, Amano foi um dos dois subcomandantes do Grupo Tático Armado, o GTA, da ALN, chefiado por Virgílio Gomes da Silva, o “Jonas”, que comandou o seqüestro de Elbrick. Os integrantes do GTA tinham por características resistir à prisão a tiros. Num tiroteio em Suzano, durante um assalto a banco, Amano foi baleado, mas conseguiu fugir e foi operado clandestinamente. Em outro, na Alameda Campinas, acabou baleado e preso pelos órgãos de segurança, juntamente com Luís Augusto Fogaça Balboni, que morreu no hospital, e Carlos Lichtszejn, também ferido. Durante aquele ano de 1979, o GTA e seu grupo de apoio logístico da ANL foram desbaratados. “Jonas”, Marighella e, depois, Joaquim Câmara Ferreira, o “Velho”, todos dissidentes do antigo PCB, acabaram mortos.
A opinião de Amano coincide com a do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que fez treinamento de guerrilha em Cuba, mas não participou de ações armadas. No seu blog, o ex-ministro qualificou de “erro grosseiro” de membros do governo, particularmente do ministro da Justiça, Tarso Genro, a reabertura da discussão sobre a Lei da Anistia. Para Amano, o debate sobre o assunto pode ter sido precipitado por causa da luta interna no governo, já que a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, ex-guerrilheira da Var-Palmares, é a preferida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para sucedê-lo em 2010.
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