Pior do que o esperado pelos economistas do setor privado, e muito pior do que o desejado - e previsto - pelo governo, o fraco desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre - crescimento de apenas 0,2% sobre o trimestre anterior, resultado muito próximo da estagnação - não deixa dúvidas de que os efeitos da crise internacional afetam cada vez mais a economia brasileira. A expansão em relação ao primeiro trimestre do ano passado foi de 0,8% e o resultado acumulado dos 12 meses até março foi 1,9% maior do que o dos 12 meses anteriores. Esses números reforçam as previsões de que, neste ano, o PIB brasileiro crescerá menos do que em 2011, quando aumentou 2,7%.
O governo, no entanto, mantém a visão otimista que há tempos vem tentando transmitir à sociedade - com êxito cada vez menor à medida que vão sendo conhecidos os resultados da atividade econômica - e prevê um segundo semestre muito melhor, com crescimento médio de 4,5%. Se isso ocorrer, o crescimento de todo o ano será maior do que o de 2011. Por isso, a projeção oficial continua sendo de aumento de 3,1% do PIB em 2012.
Quanto mais distante estiver da realidade, mais dificuldades terá o governo para enfrentá-la de maneira adequada. Nesse quadro, maior será o risco de que, com o agravamento da crise externa, adote medidas isoladas e contraditórias, como tem feito até agora, tornando ainda mais desarticulada uma política econômica que já se ressente da falta de coerência.
São muitos os dados negativos sobre o desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e mesmo os que se mostraram animadores nos três primeiros meses do ano parecem ter invertido sua tendência a partir de abril.
A estiagem que castigou as lavouras do Sul provocou a quebra da safra de soja e afetou fortemente o desempenho da agropecuária, que, no primeiro trimestre, registrou redução de 8,5% em relação a igual período do ano passado. Não está afastada a possibilidade de, também no segundo trimestre de 2012, o resultado da agropecuária ser fortemente negativo.
O PIB industrial apresentou um crescimento até surpreendente em relação ao trimestre anterior, de 1,7%, expansão que, anualizada, chega a quase 7%, daí o ministro da Fazenda, Guido Mantega, prever que em 2012 "a indústria deve ter resultado melhor do que em 2011". É possível, mas, na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, o aumento do PIB industrial é muito próximo de zero, de apenas 0,1%. Nessa comparação, a indústria de transformação foi a que apresentou o pior desempenho. Resultados da produção industrial em abril, também do IBGE, mostram queda de 2,9% em relação a abril do ano passado, o que reforça as projeções pessimistas de economistas do setor privado para todo o ano.
Do lado da demanda, o consumo das famílias e os gastos do governo impulsionaram a atividade econômica nos três primeiros meses do ano. O aumento real de 6,5% da massa salarial no período, em relação ao primeiro trimestre do ano passado, propiciou o aumento de 2,5% do consumo das famílias. Já o consumo do governo aumentou 3,4% em relação ao primeiro trimestre de 2011 e 1,5% em relação ao trimestre anterior.
Dado preocupante é o relativo aos investimentos, que diminuíram 2,7% na comparação com igual período do ano passado e 1,8% em relação ao trimestre anterior. Era previsível que os investimentos privados se retraíssem por causa da intensificação das incertezas sobre a economia mundial em razão do agravamento da situação financeira de outros países europeus, além da Grécia, e das projeções pessimistas para o desempenho da economia chinesa.
Esse quadro torna cada vez mais urgente a expansão dos investimentos públicos, que podem assumir papel central na preservação do ritmo de atividades internas, ao injetar mais recursos na economia e eliminar gargalos de infraestrutura que impedem a expansão da produção. A rápida deterioração da situação europeia, em razão das dificuldades financeiras crescentes da Espanha, exige resposta igualmente rápida - e eficaz - do governo.
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