sábado, 2 de abril de 2016

PT articula ‘reconciliação’ com antecipação de eleições

PT já fala em ‘reconciliação nacional’

  • Se Dilma escapar do impeachment, setores do partido defendem uma união com a oposição e até a convocação de novas eleições gerais

Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

Setores do governo e do PT defendem que, caso a Câmara não aceite o pedido de impeachment, a presidente Dilma Rousseff lidere um amplo processo de reconciliação nacional como forma retomar a estabilidade política, a governabilidade e viabilizar saídas para a crise econômica.

Segundo fontes do Planalto e do PT, o processo seria liderado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na condição de ministro da Casa Civil, e passaria por um entendimento com setores da oposição. A ideia de Dilma enviar ao Congresso um projeto para abreviar seu mandato e convocar novas eleições para presidente, deputados e senadores voltou a ganhar força entre setores do PT e do governo.
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Aliados da presidente consideram um novo pleito como uma alternativa viável pela retomada da estabilidade. “Do jeito que está, ninguém ganha”, argumentou um parlamentar.

A ferramenta legal para convocar novas eleições seria uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de iniciativa do Executivo que precisa de aprovação do Congresso.

Algumas lideranças petistas sugerem que Dilma apresente a PEC em algum momento entre a decisão da Comissão Especial do impeachment e a votação do afastamento na Câmara. A proposta não foi bem vista no Planalto por passar a impressão de que Dilma entregou os pontos.

De acordo com interlocutores da presidente, Dilma tem demonstrado preocupação com o quadro político depois da votação do pedido de impeachment na Câmara. Um dos cenários avaliados pelo governo é de que a instabilidade que marcou o segundo mandato de Dilma até aqui continue mesmo que a presidente consiga barrar o impeachment no Congresso.

Entre os elementos citados por assessores de Dilma estão o pedido de impeachment protocolado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que cita a delação do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS) e o julgamento do processo que pede a cassação da chapa Dilma/Michel Temer (PMDB) em tramitação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nas últimas semanas, esse processo ganhou relevância devido às novas revelações da Operação Lava Jato sobre o uso de dinheiro desviado do esquema de corrupção da Petrobrás para o pagamento de despesas da campanha pela reeleição da petista. O PT alega que todas as doações ao partido foram feitas de forma legal e estão devidamente declaradas na corte eleitoral.

Constituinte. Mas o motivo que mais preocupa os aliados de Dilma é a dificuldade em compor uma maioria que garanta governabilidade durante o restante do mandato.

“Não adianta trocar o PMDB por outros dois ou três partidos que depois de amanhã podem fazer a mesma coisa”, disse um influente parlamentar petista em referência à decisão do partido de Temer de desembarcar do governo.

A estratégia proposta por setores do governo é manter a mobilização dos movimentos populares próximos ao PT mesmo depois da votação do impeachment na Câmara. O foco, a partir de então, seria a reforma política por meio de uma Constituinte exclusiva para reformular todo o sistema eleitoral e partidário brasileiro.

Ao mesmo tempo, Lula chamaria todas as forças políticas, econômicas e sociais do Brasil para um pacto em torno da retomada da estabilidade. O ex-presidente já disse a interlocutores que pretende procurar a oposição para conversar depois da votação do impeachment, caso Dilma seja mantida. “Estamos dispostos a fazer concessões à oposição”, disse um colaborador de Dilma.

Saídas. Para lideranças petistas, apontar saídas para o pós-impeachment é um dos elementos fundamentais na estratégia para evitar a queda de Dilma.

O PT e o governo não confiam nos cálculos de números de deputados contrários ou favoráveis ao afastamento de Dilma, mesmo com o loteamento de cargos entre deputados indecisos. Por isso, avaliam que a estratégia mais eficaz é “melhorar a conjuntura da votação”, criando um ambiente favorável ao governo até as vésperas da decisão da Câmara.

O recuo da inflação em março e os sinais de mudanças na política econômica, como o lançamento da terceira fase do Minha Casa Minha Vida, são vistos como elementos positivos.

Além de “acenar para o futuro”, o governo aposta na manutenção das mobilizações populares contra o impeachment e na distribuição de cargos para influenciar deputados indecisos.

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