O ex-presidente Lula, réu duas vezes na Lava-Jato, mergulha nas campanhas de Fernando Haddad (PT), em 4º lugar em SP, e Jandira Feghali (PCdoB), no Rio. Em Porto Alegre, a associação com Lula tem prejudicado Raul Pont (PT).
• Na reta final da campanha, Lula se empenha em campanhas com poucas chances de vitória
Ana Paula Ribeiro, Cristiane Jungblut, Guilherme Rramalho - O Globo
-SÃO PAULO, PORTO ALEGRE E RIO -Réu duas vezes na Lava-Jato, o ex-presidente Lula usa seu capital político, na reta final do primeiro turno, para tentar fazer decolar campanhas de aliados. Cabo eleitoral de peso em eleições passadas, o ex-presidente enfrenta agora o risco de ver derreter candidaturas que apoia em grandes colégios eleitorais.
Em São Paulo, com o prefeito Fernando Haddad (PT), estacionado em quarto lugar nas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente foi ontem à periferia em busca de votos para o petista , que tenta a reeleição. Lula acompanhou Haddad em uma caminhada pelas ruas de São Mateus, na Zona Leste da cidade. Amanhã, ele participa, no Rio, de atividade ao lado da candidata do PCdoB, Jandira Feghali, que está numa embolada disputa pelo segundo lugar com outros quatro adversários.
Haddad tem 10% das intenções de voto, segundo a última pesquisa divulgada pelo Datafolha. João Doria está numericamente à frente, com 25%, seguido por Celso Russomano (22%) e Marta Suplicy (20%). Na avaliação de Lula, o fraco desempenho de Haddad se deve “à publicidade contra o PT”. O ex-presidente afirmou que ainda é possível, com a intensificação da campanha, que o candidato petista conquiste até dez pontos e tenha condições de ir para o segundo turno, embora Haddad não tenha a liderança nem nas regiões mais periféricas da capital paulista, tradicional reduto de votos do PT na cidade.
‘Lava-Jato é para depois das eleições’
O ex-presidente não quis comentar seu envolvimento na Lava-Jato:
— Não vou discutir o meu problema pessoal. Isso é para depois das eleições — afirmou.
Haddad chegou atrasado para o ato de apoio a sua reeleição. A caminhada em São Mateus estava marcada para as 11h. Lula chegou ao local às 11h35 e, após tirar fotos com militantes, deu início a caminhada, ao meio-dia, mostrando incômodo com o atraso de Haddad, que participou antes de um evento do Sindicato dos Bancários.
— A militância é forte, mas todo mundo tem família e quer ficar com eles. Então vamos começar e depois o Haddad dá uma corridinha e alcança a gente — disse ele.
Em cerca de um mês e meio de campanha, essa é a terceira vez que o ex-presidente participa de um ato pela reeleição de Haddad.
Enquanto luta pelo segundo lugar com Marcelo Freixo (PSOL), Pedro Paulo (PMDB), Flávio Bolsonaro (PSC) e Indio da Costa (PSD), Jandira abrirá sua agenda hoje para, segundo ela, “fazer um desagravo” a Lula no comício que será realizado no Largo de Bangu, na Zona Oeste do Rio. Segundo ela, as imagens do evento, marcado para às 18h, serão utilizadas em sua propaganda eleitoral na TV. Mesmo com o fato de Lula ter se tornado, há dez dias, réu por corrupção na Lava-Jato (na segunda denúncia aceita contra ele envolvendo os escândalos na Petrobras), a candidata espera impulsionar sua campanha nesta reta final:
— Vamos falar para o povo da região da Zona Oeste, vamos falar da cidade, mas é óbvio que vou fazer um desagravo a ele diante de tudo o que ele está passando, está vivendo. Mesmo assim, ainda se dispõe a vir aqui dar o apoio a mim. Enda tão, é um privilégio e uma honra ter o Lula no palanque para mim. A liderança dele, para mim, é absolutamente forte. Mas é um comício do Lula em apoio a mim. Não é um comício do Lula em que eu vou — afirmou a candidata do PCdoB.
Jandira destacou que a data escolhida para o comício está sendo negociada há três semanas, conforme a agenda do ex-presidente — na Lapa, o candidato Marcelo Freixo (PSOL) também fará hoje, no mesmo horário, um comício com a presença do cantor e compositor Chico Buarque.
— Meu mundo não está girando em torno da disputa da esquerda. Meu foco está do outro lado, sinceramente. Marquei em função da agenda do Lula. Queria até que tivesse sido no sábado, pedimos a ele para ser no dia 24, mas ele não podia porque estaria em outro lugar. Então, ficou segunda. Para a área popular, é mais forte fazer num fim de semana. Durante a semana, as pessoas trabalham ou estão fora da região — comentou, descartando qualquer briga com Freixo. — Minha disputa não é com o Freixo, é com a direita, o setor conservador que sustentou o golpe. Na esquerda, só proponho unidade. Todas as agressões têm partido do PSOL. Eu não agredi ninguém e vou continuar fazendo com este comportamento até o final.
Jandira espera que Lula seja bem recebido pelo público no comício:
— Temos concentrado nossos esforços numa área que precisa de mais poder público e onde as demandas são maiores, e onde o Lula é muito querido por tudo o que fez para o país e a cidade do Rio. A região abriga uma população de cerca de 3 milhões de pessoas que tiveram sua vida mudada após os 13 anos de governo popular.
Em Porto Alegre, o envolvimento de Lula na Lava-Jato se tornou pedra no sapato do candidato Raul Pont (PT).
— Estamos sendo massacrados todos os dias com notícias sobre Lula, Mantega (em referência ao envolvimento do ex-ministro da Fazenda na 24ª fase da Lava-Jato). Mas tem vida real (em Porto Alegre). Há uma lembrança das pessoas de que houve obras de água, pavimentação nos bairros mais pobres durante nossas gestões — dizia Raul Pont aos petistas, numa roda, ontem.
Fora do comando da capital gaúcha desde o final de 2004, quando perdeu a eleição depois de 16 anos no poder, o PT do Rio Grande do Sul luta agora para conseguir ir ao segundo turno eleição municipal. Ao todo, são nove candidatos concorrendo na cidade. Sebastião Melo, candidato do PMDB e apoiado por 13 partidos, aparece em primeiro nas pesquisas. Para o segundo lugar, há uma briga entre Pont, Nelson Marchezan Júnior (PSDB) e Luciana Genro (PSOL), que vem perdendo pontos. O noticiário em torno de Lula vem corroendo as chances de Pont.
O petista disse que sempre foi um “crítico” e acredita que o seu partido foi “omisso” em alguns momentos, inclusive não punindo exemplarmente algumas pessoas. O PT gaúcho chegou a defender a realização do Congresso do PT já este ano, mas a direção nacional decidiu realizá-lo na primeira metade de 2017.
Como em outros locais do país, a bandeira do PT foi deixada em segundo plano nessa campanha. A bandeira da campanha é branca, com o nome de Raul escrito numa espécie de arco-íris. Há um 13 vermelho, mas não a estrela. O slogan da campanha “Porto Alegre-se” também é exibido nos programas inclusive na cor azul.
A última pesquisa Ibope, divulgada na sexta-feira, mostra Sebastião Melo com 29% das intenções de voto; Raul Pont e Nelson Marchezan (PSDB) com 17% cada um, seguidos de Luciana Genro (PSOL), com 12%. Considerando a margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos, os últimos três estão tecnicamente empatados. Mas Luciana Genro vem caindo, tendo perdido cinco pontos percentuais. Pont perdeu dois pontos percentuais, de 19% para 17%, e Marchezan manteve os 17%.
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