- O Globo
Os psicólogos foram muito solicitados
Não sei se é porque nunca fui de bater perna na rua, sou mais caseiro, o fato é que esta primeira semana de quarentena não chegou a ser para mim o que foi para muita gente: dias vividos com a sensação de abandono, solidão ou angústia (o meu sofrimento foi expresso aqui na semana passada: a separação dos netos). Os psicólogos foram muito solicitados pelos repórteres para fornecer sugestões que pudessem preencher o tempo que custa a passar.
Foram vários os conselhos — desde acompanhar séries e novelas, botar a leitura em dia, ouvir música, fazer exercícios físicos, até recursos como a autorreflexão, meditação e mindfulness. Houve mesmo conselho aos casais: praticar a DR, ou seja, discutir a relação. Já imaginaram nós, Mary e eu, com 57 anos de casados, discutindo a relação?
O que vinha e vem de fora pelo noticiário da TV e dos jornais aumenta a preocupação de quem está confinado, a começar pelo comportamento errático do presidente, que chamou de “gripezinha” a pandemia que até ontem à tarde já matara 46 pessoas no Brasil e atingira mais de 2 mil, inclusive 23 membros da comitiva que viajou com ele aos EUA este mês.
Não por acaso, o brasileiro confia mais no ministro da Saúde do que no presidente. Em pesquisa do Datafolha, o ministro Luiz Henrique Mandetta tem a confiança de 55% contra 35% de Bolsonaro. E ele previu que os casos de Covid-19 devem disparar em abril, maio e junho, estabilizar em julho, começar a cair em agosto e ter uma queda em setembro. Quando se diz que o Brasil vai ser amanhã o que a Itália é hoje, me lembro da declaração de um enfermeiro italiano: “Uma pessoa em estado grave e muito idosa a gente deixa morrer. É preciso escolher, e não posso usar a vaga na UTI para alguém de 90 anos, com perspectiva de um ou dois anos de vida, e ignorar alguém de 60 anos, que tem perspectiva de 25”.
Mas houve também o que comemorar. A mim, por exemplo, o melhor que me aconteceu esta semana foi o comentário de Eric depois de trocarmos beijos à distância. Ele disse para o pai : “Inda bem que ele é meu vô. Ele é muito legal”.
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