sábado, 10 de fevereiro de 2024

Alvaro Costa e Silva - Sambódromo do Brizola: a loucura que deu certo

Folha de S. Paulo

Passarela do samba completa 40 anos colecionando apoteoses

Quarenta anos de Sambódromo. A palavra —que o dicionário Houaiss registra como criação de Darcy Ribeiro— é uma das mais feias da língua portuguesa. Mas acabamos nos acostumando e até gostando dela e do seu som quadrado, como batuque no cimento. Também não parece mais tão monstruosa, hoje, a estrutura de concreto erguida em apenas quatro meses.

Ao longo do tempo o Sambódromo se humanizou, apesar dos carros alegóricos que podem chegar a 22 metros e exibem mais tecnologia que criatividade. Cada amante dos desfiles passou a colecionar momentos inesquecíveis, os quais podem ter se desenrolado fora da passarela —o ex-presidente Itamar Franco, de topete carnavalesco, ao lado da modelo Lilian Ramos, de camiseta e sem calcinha, num camarote.

Como é impossível citar todas as histórias e cenas marcantes, segue uma lista íntima. No inaugural 1984, a Mangueira chegou à Praça da Apoteose —os sambistas não sabiam para o que ela servia, e ainda não sabem— e resolveu voltar, para delírio das arquibancadas. Nasceu ali a sensação de que aquela loucura do Brizola poderia dar certo.

As esculturais rainhas de bateria, nenhuma capaz de superar a graça infinita de Quitéria Chagas. Na Unidos da Tijuca, os membros da comissão de frente que, num passe de ilusionismo, perdiam a cabeça. As genitálias desnudas, depois decoradas e enfim censuradas. Mesmo destino do Cristo Redentor, proibido pela Justiça e que mesmo assim desfilou na Beija-Flor de Joãosinho Trinta, coberto por enorme saco plástico de lixo.

Com "Peguei um Ita no Norte", Quinho do Salgueiro comandando um coro de 60 mil vozes. Na Imperatriz, o casal de porta-bandeira e mestre-sala, Maria Helena e Chiquinho, mãe e filho. As alas das velhas guardas, das baianas e das crianças. Não por último, o naipe de agogôs na bateria do Império. E olha que houve no Rio um prefeito que, se pudesse, demoliria o Sambódromo.

 

Um comentário:

marcos disse...

Bobagem, o sambódromo não deu certo em nada.E o texto prova.

1º O objetivo inicial era acabar com a montagem desmontagem dos alambrados caríssimos. E a desculpa foi fazer dele uma escola para funcionar fora do carnaval. Não acabou,desde o 1º carnaval;

2º Os carros não tem 22 metros à toa. Foi a suprema verticalização das arquibancadas que gerou isso;

3º As salas de aula, assim como todos os CIEPS, são verdadeira fábricas de surdos e mudos, além de Sibéria no inverno e Saara no verão. Pergunta pro INMETRO;

4º Leia a última de Joãozinho 30 e o que ele dizia sobre.

5º A Mangueira não voltou porque não sabia;voltou porque era a última a desfilar e encontrou a Apoteose engarrafada. Então voltou;

6º A Apoteose foi um dos muitos delírios de Darcy. Não serve pro desfile,mas serve pros shows, bailes...

Quem era do PDT sabia disso. Pergunta pra Lia; pra Aninha.

MAM