sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Eliane Cantanhêde - Termos e imagens do golpe

O Estado de S. Paulo

Como tudo na vida pessoal, militar e política de Bolsonaro, o golpe foi grave, mas um pastelão

Juntando tudo, resta zero dúvida sobre a tentativa de golpe que teria jogado o Brasil numa ditadura e as Forças Armadas na lama e que pode ser definida com três palavras: grave, mas amadora e, em vários momentos, patética. Cada um desses adjetivos está muito bem ilustrado por imagens fortes, abundantes, de veracidade comprovada e amplo conhecimento público.

Foi obviamente GRAVE porque o golpe era liderado pelo próprio presidente, Jair Bolsonaro, que cooptou oficiais das três Forças Armadas, articulou até um projeto para assumir o controle sobre as polícias militares e escancarou as armas para civis. Ele também manipulou as massas, em atos de cunho inequivocamente golpista e interveio na Abin, PF, Receita, Coaf...

Imagens: Bolsonaro, ministros e generais, em palácio, caprichando em provas contra eles próprios; atos golpistas diante do Planalto e até do QG do Exército; discurso achincalhando o Brasil para embaixadores; minutas de decretos para trocar o TSE por comissões recheadas de militares; rascunho de pronunciamento anunciando estado de sítio. Mais as trocas de mensagens pela internet e, claro, o 8/1/2023.

A tentativa de golpe foi também AMADORA porque combinar golpe com um monte de gente, na sede do Poder Executivo, com tudo sendo gravado? E misturar oficiais cheios de estrelas e cursos com capitães expulsos do Exército, hackers condenados, políticos fajutos, advogados aproveitadores, empresários de quinta, especialistas em rachadinhas? Um circo dos horrores.

Imagens? Nos vídeos golpistas no Planalto, Bolsonaro e seu ministro da Defesa, general Braga Netto, garantem aos presentes que não estavam sendo gravados. Estavam. Ou Bolsonaro mentiu e gravava tudo para prevenir “traições”, ou ele era gravado pelos generais ou sua equipe. De qualquer jeito, de um amadorismo atroz.

E tudo foi PATÉTICO porque, como tudo na vida pessoal, carreira política e governo de Bolsonaro, a tentativa de golpe é um pastelão de Miami. Misturem-se o palavreado, as intenções e os personagens das reuniões golpistas com avião da FAB indo buscar joias das Arábias, militares metidos em vendas de relógios ilegais nos EUA, atestados falsos de vacina, general da ativa em carro de som de campanha, embaixadores chocados, ouvindo o presidente esculhambar o Brasil...

Há uma profusão de imagens sobre o patético, mas uma é imbatível: os tanques velhos, fumacentos, ridículos, desfilando na capital antes de o Congresso dizer não às cédulas impressas, que tinham como único intuito achincalhar as urnas eletrônicas. Os tanques e seu fumacê dizem muito sobre o golpe e os aventureiros golpistas.

Um comentário:

Daniel disse...

Excelente síntese!