Folha de S. Paulo
Sem anistia à vista, ex-presidente só tem a
oferecer hoje o seu espólio
O que levou o presidente do Senado, Davi
Alcolumbre, a se mexer com rapidez e elaborar a proposta de acordo entre
Congresso e STF para reduzir
as penas de condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 foi um
erro de estratégia de Sóstenes Cavalcante —ou do belicoso pastor de quem o
líder do PL recebe ordens. Ao ameaçar romper outro acordo, o das emendas, para
forçar a votação da anistia, Sóstenes meteu os pés pelas mãos. Mexeu com as
emendas bilionárias, mexeu com todos os parlamentares, sobretudo os do centrão.
Caso saia o acordo —há ministros na Corte que são contra—, quem perde, mais uma vez, é Bolsonaro. Aprovada, a nova lei beneficia os peixinhos. Nada se altera em relação aos tubarões, os que tiveram papel de financiamento ou planejamento na trama golpista.
Antes da cirurgia
de desobstrução intestinal, lideranças da direita já estavam descontentes
com a insistência de Bolsonaro —que hoje é um fantasma eleitoral, podendo
apenas transferir votos— em encabeçar uma chapa para a disputa ao Planalto em
2026.
Bolsonaro está determinado a defender o
próprio nome até o momento do registro da chapa, poucos meses antes do pleito,
mesmo que suas apostas estejam dando errado —e estão. Seus advogados de defesa
não sabem o que fazer diante das provas recolhidas pela PF que embasam o
processo no Supremo. O movimento das ruas ficou aquém do esperado. Suposto
aliado internacional, Trump se
trumbica cada vez mais e está prejudicando o Brasil com a guerra tarifária.
Restou o vitimismo, que antes Bolsonaro tanto
combatia. Mas quem pode garantir que aparecer na cama do hospital como se
estivesse no bico do urubu, expondo
cicatrizes, sondas e drenos afixados ao corpo, é uma boa propaganda? Se uma
parte do eleitorado considera Lula um velho, o que dizer de um doente crônico?
Há uma competição entre os presidenciáveis da
direita —Tarcísio, Caiado, Zema, Ratinho Jr.— para definir um nome de consenso.
O certo é que todos eles consideram o capitão uma carta fora do baralho.
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