Ao assumir a Pesca, Crivella faz discurso religioso e plateia responde "Glória a Deus"
Isabel Braga, Catarina Alencastro
BRASÍLIA. Uma posse com jeito de culto. Por alguns momentos o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, agiu como se estivesse pregando num templo, durante a solenidade em que assumiu o cargo de ministro da Pesca e Aquicultura, no Palácio do Planalto. Houve várias menções a Deus, inclusive para justificar o fato de não ter muita experiência em assuntos relacionado à pesca. Na plateia, foram ouvidas respostas de "Glória a Deus". Crivella também citou pensamentos do bispo fundador da Igreja Universal, seu tio Edir Macedo.
Crivella encerrou o discurso com uma oração em que pede a Deus que dê sabedoria e discernimento aos colaboradores e funcionários da pasta que comandará, para que não ocorram deslizes éticos. Poucos deputados e senadores da bancada evangélica, no entanto, compareceram à posse. O grupo não se sente representado por Crivella.
Na frente da presidente Dilma Rousseff, Crivella admitiu seu desconhecimento da área e pediu a Deus que lhe oriente na gestão da pasta.
- Muitas vezes Deus não escolhe os mais qualificados, mas, sempre, Deus qualifica os escolhidos (...) Peço a Deus que a vontade do espírito produza a nova missão, que possa ocorrer entre nós o milagre da benção maravilhosa que Jesus realizou (...). Que Deus nos ajude, que nas nossas represas, nas águas do nosso mar os peixes se multipliquem e cheguem às mesas de todos os brasileiros, sobretudo os mais pobres - rezou Crivella, finalizando:
- Peço também que o Senhor nos conceda a todos nós, colaboradores e funcionários do Ministério da Pesca e da Aquicultura, boa vontade, idealismo, sabedoria e discernimento para que continue não ocorrendo em nosso ministério qualquer deslize desses que desunem o povo e faz o cidadão de bem sentir vergonha de ser brasileiro. Por isso, humildemente peço, me ajude, meu Deus!
Além das menções a Deus e orações, Crivella também enalteceu e fez vários elogios à presidente, chamando-a de estadista e atuante. Crivella destacou a ajuda de Dilma, ainda como ministra, ao Rio de Janeiro, destacou sua inconformidade em conviver com a miséria no país e a luta para erradicá-la. Nesse momento, um dos presentes à solenidade, gritou: "Glória a Deus!". O ministro também elogiou o ex-vice-presidente José Alencar, que era filiado ao PRB.
A presidente Dilma fez menção a Deus uma única vez em seu discurso:
- Foi graças a essa ampla coalizão que sustenta o meu governo que chegamos ao poder para governar para todos, sem exceção. Essa ampla coalizão, ela deve, pode e, graças a Deus, nos apoia na promoção das mudanças que vimos promovendo no Brasil.
Após sua posse, o novo ministro minimizou o fato de poucos parlamentares evangélicos terem comparecido à solenidade:
- A Liliam Sá (PSD-RJ) estava presente. O ministro é do PRB, é evangélico, mas a indicação é do PRB.
Crivella afirmou que vai se dedicar para levar a pesca brasileira a um patamar de respeito mundial, como acontece com agricultura brasileira. Ele citou estudo feito pela Secretaria de Assuntos Estratégicos estabelecendo, entre outras metas, a de dobrar o consumo per capita de peixe no Brasil e gerar um milhão a mais de empregos no setor. Ele disse que, para isso, é preciso mais recursos, pesquisa, sugerindo a criação de uma "Embrapa da Pesca", além de mais engenheiros de pesca. Segundo ele, no Brasil existem 800 mil engenheiros, mas apenas 147 engenheiros de pesca.
O senador disse que Dilma pediu-lhe que cuide dos pescadores artesanais que estão na informalidade e são mais de um milhão.
- Esse é o espírito do nosso governo, pensar nos outros - Crivella.
Dilma deu o ministério a Crivella para conter as críticas de evangélicos a seu governo e também para tentar ajudar o candidato do PT a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, alvo dos religiosos por causa do que chamam de "kit gay".
FONTE: O GLOBO
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