A inflação de Dilma já tem seu símbolo: o tomate. A hortaliça, que dobrou de preço em um ano, tornou-se a melhor tradução da alta generalizada que acomete a economia brasileira, atinge com força os alimentos e penaliza mais as famílias mais pobres. O governo petista parece não saber o que fazer para conter a praga.
Amanhã, o IBGE divulga o IPCA de março. Qualquer resultado superior a 0,40% no mês significará que o índice acumulado nos últimos 12 meses terá furado o teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional, de 6,50%. A última vez que isso aconteceu foi em novembro de 2011.
Ninguém mais acredita que o limite superior não será rompido agora. A prévia da primeira quinzena do mês (IPCA-15) mostrou alta de 0,49% e o Boletim Focus do Banco Central de ontem trouxe previsão de 0,50%. “O estouro da meta é um consenso. O problema é prever a inflação daqui para frente”, lamentou um analista ouvido pelo Correio Braziliense.
Com a água já chegando ao pescoço, ontem Dilma Rousseff pediu socorro a seus conselheiros econômicos. Deve ter ouvido deles que a alta dos juros parece iminente, uma vez que o governo petista recusa-se a fazer o mais adequado: diminuir seus exorbitantes gastos públicos para abrir espaço para o investimento privado. Por falta de aviso é que não foi.
Yoshiaki Nakano, um dos convidados de ontem do Planalto, escreve hoje no Valor Econômico: “Se o governo não está disposto a fazer uma ‘contração fiscal’ que mereça este nome não resta senão o Banco Central elevar a taxa de juros. (…) Se o Banco Central e o governo não agirem convincentemente corremos o risco do hábito de reajustar os preços de acordo com a inflação passada voltar com toda a sua força.”
Outro participante, o guru-mor do petismo Delfim Netto, também expressa sua visão em artigo no jornal: “O governo sabe que o namoro inflacionário duradouro com a banda superior da meta (5,8% nos oito anos de governo Lula e 6,2% nos dois anos do governo Dilma) é um convite à sua persistência. Isso deteriora as expectativas e reintroduz a incerteza na fixação dos salários. Sabemos como isso termina”.
Segundo Delfim, nos últimos dez anos a média da taxa de inflação brasileira nunca saiu de perto dos 6%, o que é altíssimo. De acordo com a Folha de S.Paulo, para este ano as instituições mais certeiras do mercado já creem que o IPCA chegará a 6,15%, bem acima dos 5,7% que até o BC já admite oficialmente. Em dez anos, o PT só entregou inflação abaixo de 4,5% em três ocasiões; Dilma não conseguirá uma vezinha sequer em seu mandato.
Tudo indica que a política de remendos praticada pela presidente não tem conseguido fazer mais do que água. Desonerações tributárias a granel, medidas emergenciais, decisões que vêm e vão, pacotes que se sucedem têm servido simplesmente para engolir dinheiro público. No domingo, O Globo mostrou que R$ 315 bilhões foram despejados pelo governo petista na economia nos últimos dois anos, mas só conseguiram produzir um pibinho acumulado de 3,6%.
A desoneração da cesta básica, por exemplo, foi incapaz de impedir que o item continue aumentando – e muito. Apenas no mês de março, chegou a subir 6%, como no caso de Vitória. No trimestre, ficou mais cara em todas as 18 capitais pesquisadas pelo Dieese, com aumentos de até 23%, como em Salvador. Em 12 meses, a média de reajuste beira os 30%.
O caos logístico também colabora para encarecer a comida do brasileiro. Com o preço do frete em alta – seja pelas más condições de nossa infraestrutura, seja pelos reajustes de combustíveis ou por mudanças no regime de trabalho dos caminhoneiros – reduções de preços no atacado não chegam ao varejo. Transportar grãos, por exemplo, ficou 56% mais caro no país desde janeiro, informa O Globo.
Trata-se de um quadro que inspira muita preocupação. Primeiro, porque a inflação penaliza justamente quem mais precisa: os mais pobres. A alimentação para famílias com renda até 2,5 salários mínimos ficou 14% mais cara nos últimos 12 meses, algo que nenhum salário consegue acompanhar. Desde 2008, o preço da comida não subia tanto nesta base de comparação.
E este é um fenômeno legitimamente brasileiro: no Brasil, os preços do grupo alimentação e bebida têm subido todos os meses desde agosto de 2011, segundo o IBGE. No mundo acontece o oposto: conforme a FAO, os alimentos acumulam deflação de 9% nestes 19 meses, como mostrou O Estado de S.Paulo ontem.
Em segundo lugar, a inflação preocupa porque é generalizada. O IPCA de fevereiro mostrou que 72% dos preços que compõem o índice subiram, atestando uma alta disseminada como há muito não se via no país – normalmente, este percentual fica em torno de 60%. Da mesma forma, o núcleo de inflação em alta é sinal que não são fatores excepcionais, sazonais ou circunstanciais – como é o caso do tomate – que estão elevando o nível geral de preços, mas, sim, que todo o conjunto da economia está ficando mais caro.
Há grande expectativa em relação ao resultado do IPCA de amanhã porque dele podem depender decisões imediatas importantes na condução da política econômica do país. Na semana que vem, o Banco Central define a nova taxa básica de juros. Se se confirmar o pior, e a inflação estourar a meta, a Selic pode começar a subir. É o alto preço que a população brasileira paga pela má condução da economia pelo governo Dilma.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela, 9/4/2013
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