Desafio na corrida para 2014 é conquistar votos de Marina, que não participará da direção do PSB
Cristiane Jungblut
BRASÍLIA- O PSB e o PSDB, os principais adversários da presidente Dilma Rousseff na eleição presidencial do ano que vem, vão redimensionar suas estratégias depois dos resultados da última pesquisa Datafolha, que mostrou uma pulverização dos votos da ex-senadora Marina Silva, da Rede Sustentabilidade. No PSB, o desafio do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, é conquistar a maior parcela dos votos da ex-senadora, com quem fez aliança depois que ela não conseguiu criar seu novo partido a tempo de disputar a eleição. Para isso, o comando do PSB quer aumentar a exposição da dupla na mídia. Pretendia também formalizar a presença de Marina na Executiva Nacional do partido, em encontro já marcado para quarta-feira — mas a Rede recusou essa proposta, criando mais um ruído na aliança.
Durante o fim de semana, dirigentes do PSB davam como certa a entrada de Marina e de outro integrante da Rede no comando do partido. Ontem, porém, após longa reunião em Brasília, os seguidores da ex-senadora informaram que agradecem o convite, mas ficarão de fora. Marina participou da reunião, mas evitou entrevistas.
— Nenhum membro da Rede vai participar das instâncias do PSB — disse Bazileu Margarido, da comissão nacional provisória do partido em criação, agradecendo a proposta do PSB.
Segundo ele, a intenção é manter a identidade da Rede e deixar caracterizada que o que existe é uma aliança com o PSB. Em vez de integrar organicamente o PSB, a Rede decidiu formar uma comissão com cinco membros, incluindo a ex-senadora Marina Silva, para fazer a interlocução com o partido de Eduardo Campos.
Os socialistas minimizaram a recusa da Rede, para evitar novos constrangimentos. Mas não negam uma decepção.
— Os espaços que oferecemos, oferecemos com alegria. Mas ninguém é obrigado a aceitar. Aos poucos, vamos afinando a orquestra —- afirmou o Kder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS).
— Marina tem que reafirmar a Rede. Acho que é nesse sentido — disse Mário França, presidente do PSB de São Paulo.
A mais recente pesquisa Datafolha sobre a disputa presidencial, a primeira após a aliança de Marina com Eduardo Campos, mostra Dilma com 42% das intenções de voto, Aécio com 21%, e Campos com 15%. Indica também que a presidente é a maior beneficiária da não candidatura de Marina Silva, com os mesmos percentuais: 42% dos que declararam voto em Marina podem votar em Dilma; Aécio Neves ficaria com 21% dos votos de Marina; e o governador Eduardo Campos, com 15%.
A briga dos três principais concorrentes, agora, é pela maior parcela dos votos de Marina Silva, que, por enquanto, estão pulverizados. A mesma pesquisa Datafolha indica que Marina é mais competitiva: se disputasse a eleição, ficaria com 29%, e Dilma, 39%. Por isso, a estratégia do PSB é clara: além de mostrar Eduardo Campos como o real parceiro da ex-senadora, a meta é torná-lo mais conhecido (ainda é desconhecido para 43% dos entrevistados), mas com o desafio de administrar, e minimizar, os aspectos negativos. E também fugir da armadilha do PSDB sobre quem será, de fato, o candidato da oposição.
— Não estamos na ótica dã divisão entre candidato do governo e da oposição. Estamos em outra ótica: de sermos novidade na política. O nosso adversário no primeiro turno é o Aécio, e não a Dilma. Não adianta, o segundo turno não terá três vagas — disse Márcio França, salientando que a hora é de mostrar ao Brasil a dupla Eduardo-Marina. — Temos que solidificar a relação Eduardo-Marina.
Aliado de Marina, o deputado Valter Feldman (PSB-SP) avalia que a migração dos votos da ex-senadora para Campos é uma questão de tempo:
— Na hora em que tiver o desdobramento da informação, nossa avaliação é que uma parte ponderável virá para cá. Até porque Marina representa uma parte daquilo que não se representa na Dilma e não reconhece em Aécio as condições para ser o destinatário. É uma questão de tempo.
Nos bastidores, a cúpula do PSB diz ser vantajoso manter o clima de disputa entre Eduardo e Marina sobre quem seria cabeça de chapa em 2014, como forma de galgar os votos dos "marineiros". Beto Albuquerque já comemora o quadro atual.
— O Eduardo praticamente dobrou a sua intenção de voto: tem 15% de apoio, sendo que apenas 8% admitem conhecê-lo bem. Imagina quando ele ficar conhecido! Há muito espaço para crescimento — disse Albuquerque, negando que o bom desempenho de Marina aumente as pressões sobre quem será o candidato em 2014. — A Marina não está disputando conosco. É óbvio que ela tem um recall maior, porque foi candidata em 2010. Mas não há nenhum tipo de receio. A Marina não veio para ficar na frente ou atrás, e, sim, ao lado do Eduardo Campos.
No caso do PSDB, a corrida é para mostrar que o senador Aécio Neves (MG) é o candidato que representa a oposição ao governo petista. Para o presidente em exercício do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PB), será preciso lembrar que Eduardo Campos e Marina já foram ministros na gestão de Lula, e ao lado da então ministra Dilma. A ordem é apresentar os tucanos como opositores históricos do PT e evitar que Aécio perca o segundo lugar nas pesquisas para o PSB.
— Quem sempre esteve na oposição somos nós. E de forma coerente e clara. A candidatura Eduardo-Marina é legítima, mas é uma divisão dentro de uma base que está junta há algum tempo. Além disso, qual será a capacidade de Eduardo Campos capitalizar os votos de Marina? — afirmou ontem o senador Cássio Cunha Lima.
Já no Palácio do Planalto e no PT, a intenção é ampliar a força em seu eleitorado cativo, intensificando as viagens da presidente pelo país, no Nordeste em especial, além de maior exposição nas redes sociais e em programas populares. Os resultados do Datafolha indicam que Dilma reduziu o ritmo de recuperação de sua popularidade: ela havia crescido seis pontos percentuais em agosto e agora cresceu apenas dois. Fortalecer os palanques regionais é outra estratégia da petista.
— O PT tem que continuar priorizando os palanques nos estados. Sempre disse que a aliança deles (Eduardo Campos e Marina) não significava votos. Os votos dela se pulverizaram — disse o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE).
Fonte: O Globo
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