• Petista acusa adversária de "desvio de caráter", e candidata do PSB diz que não quer "se parecer com essa gente"
Julianna Granjeia, Marco Grillo, Maria Lima e Rafael Galdo – O Globo
BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff e a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, subiram o tom ontem nas críticas recíprocas. No Rio, onde participou de um encontro com atletas e dirigentes esportivos, a petista acusou a adversária de ter "desvio de caráter" e voltou a afirmar que ela mentiu sobre a posição na votação da CPMF. Em São Paulo, Marina afirmou que "mentirosa é quem diz que não sabe que tinha roubo na Petrobras", em relação ao suposto esquema de corrupção na estatal.
A artilharia petista vai continuar: em uma inserção programada para a televisão hoje, o programa de Dilma vai mostrar uma foto sombria de Marina, ladeada pelos ex-senadores Jorge Bornhausen e Heráclito Fortes, hoje no PSB, enquanto o locutor dirá que a candidata "agora anda com gente da ditadura (militar)". Enquanto a imagem é exibida, o locutor classifica os dois políticos como "representantes dos ruralistas e dos banqueiros". Na semana passada, a presidenciável participou de um ato político, de mãos dadas com o deputado Paulo Bornhausen, filho de Jorge e candidato do PSB ao Senado em Santa Catarina.
Ontem, ao final da entrevista coletiva e sem ser questionada a respeito, Dilma atacou Marina:
- Eu acho que um presidente pode se equivocar, errar e se confundir. Só tem uma coisa que um presidente não pode fazer: mentir. O jornal O GLOBO e nós (campanha) levantamos que, nas duas ocasiões em que houve votação para criar a CPMF e para prorrogá-la, a candidata Marina votou não. E disse, na minha frente e de todo o Brasil, que tinha votado sim. Eu acredito que é muito importante que as pessoas assumam o que fazem. Errar é humano. Mentir é desvio de caráter.
Logo depois, a campanha de Dilma usou o Facebook para reforçar a crítica à adversária, com uma foto, a frase "Errar é humano, mentir é desvio de caráter", e a hashtag #peganamentira.
Durante o discurso no encontro com atletas, a presidente já havia criticado Marina, mas sem citar o nome da adversária. Dilma afirmou que "tem muita gente dizendo que a gente não deve ter Ministério do Esporte", em referência à sabatina de Marina no GLOBO, quando a presidenciável não garantiu a continuidade da pasta em um eventual governo.
- Queria fazer uma reflexão. Se não tivéssemos o Ministério do Esporte, não tínhamos avançado tanto em algumas políticas para os esportes - disse, ao lado do ministro do Esporte, Aldo Rebelo.
Durante o evento, a judoca Rafaela Silva leu um manifesto dizendo que "acabar com o Ministério do Esporte ou anexá-lo a outra pasta seria um retrocesso inadiável". Segundo a campanha petista, mais de cem atletas já assinaram o documento, mas o número ainda não está fechado porque há a expectativa de mais adesões.
Ao mesmo tempo, em São Paulo, Marina fez seu discurso mais agressivo contra Dilma e rebateu a acusação de que mentiu quando disse que votou a favor da CPMF no Senado.
- Não me venha chamar de mentirosa. Mentirosa é quem diz que não sabe que tinha roubo na Petrobras, mentirosa é quem diz que não sabe o que está acontecendo na corrupção deste país. Mentirosa é quem diz que ia fazer seis mil creches e só fez quatrocentas.
"Pior fraqueza é fazer o jogo do dominador"
Ao criticar a forma como petistas estão trabalhando contra sua candidatura, a ex-senadora foi ainda mais dura. Comentou que a "pior fraqueza" é aquela em que "você fere e, depois, diz: "engula o choro"".
- Amanhã vão dizer que "ela é fraca", "ela se emociona", "ela não serve para governar o Brasil". Mas a pior fraqueza é fazer o jogo do dominador e se integrar a ele para parecer com ele. Eu não quero me parecer com essa gente.
Marina lembrou ainda que comemorou quando o país elegeu a primeira mulher presidente, em 2010, mas lamentou os acontecimentos recentes:
- Nunca pensei que uma mulher poderia permitir que pudessem fazer o que estão fazendo para destruir a biografia de outra mulher.
Marina participou de um evento com líderes estudantis, ambientalistas, políticos, um índio, um deficiente físico e um militante LGBT, além do cantor Arnaldo Antunes, do ex-diretor do Banco Central Luís Fernando Figueiredo, do ex-secretário nacional de Segurança Pública Luiz Eduardo Soares e da coordenadora da campanha, Neca Setúbal.
Já Dilma contou com as companhias do ex-lateral Cafu, do iatista Torben Grael, dos ex-jogadores de vôlei Marcelo Negrão e Maurício, do atleta paralímpico Leonardo Curvelo e de dirigentes esportivos como o presidente da Confederação Brasileira de Judô, Paulo Wanderley, e do presidente do Clube Pinheiros, Luís Eduardo Dutra. Diversos atletas que recebem incentivos do governo federal, como o Bolsa-Atleta, também participaram do ato.
Dilma afirmou que o Brasil vai realizar a "Olimpíada das Olimpíadas", em referência à "Copa das Copas", frase dita por ela sobre o Mundial de 2014. Antes do encontro, a presidente visitou o Parque Olímpico, na Barra, acompanhada do governador do Rio e candidato à reeleição Luiz Fernando Pezão (PMDB), do prefeito Eduardo Paes e de diretores do Comitê Olímpico Internacional (COI). Segundo Dilma, as obras para as Olimpíadas estão no andamento adequado. A presidente prometeu, caso reeleita, criar uma universidade federal voltada para o esporte de alto rendimento. Segundo a presidente, a faculdade será construída no Parque Olímpico, obra em construção para as Olimpíadas de 2016.
- É uma universidade que vai servir de centro de referência para todo o Brasil e desenvolver a ciência esportiva - afirmou, defendendo que os programas que distribuem recursos para atletas sejam transformados em "políticas de estado".
Depois de mais um dia intenso de campanha - antes de vir ao Rio, Dilma participou de um evento em Santos, São Paulo -, Dilma estava afônica e brincou sobre as falhas na voz:
- Sabe aquilo que acontece em São Paulo com a Cantareira? Eu estou usando volume morto.
O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, também esteve no Rio e foi ao Mercadão de Madureira, na Zona Norte. Sem o governador Pezão - que esteve ao lado de Dilma, mas também é o candidato apoiado pelo PSDB no Rio -, o senador centrou fogo contra as duas adversárias . De acordo com ele, os investimentos deixaram de vir para o Brasil e não se sabe o que esperar de um futuro governo petista, que acusou de ser intervencionista.
- Sinalizei de forma muito clara quem será o meu futuro ministro da Fazenda (Armínio Fraga) se vencer as eleições, exatamente para mostrar o caminho que perseguiremos, de resgate dos investimentos, de credibilidade da nossa economia. O máximo que a atual presidente e candidata conseguiu fazer foi anunciar quem será o seu futuro ex-ministro da Fazenda - atacou, em referência à decisão de que Guido Mantega deixará o ministério num eventual novo governo petista.
Já sobre Marina, afirmou que a candidata não adquiriu condições de governabilidade:
- A impressão que se tem sempre é que ela está a olhar sobre a cerca de sua propriedade para tentar enxergar no terreno, na grama do vizinho, algum fruto mais vistoso ou qualificado para que possa, num eventual futuro, fazer parte do seu pomar.
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