domingo, 12 de junho de 2016

O jovem Lobão ficou zangado – Elio Gaspari

- Folha de S. Paulo

O senador Edison Lobão (PMDB, ex-PFL, ex-PDS, ex-Arena) chegou ao Congresso em 1979, governou o Maranhão, foi ministro de Minas e Energia de Lula (2008-2010) e de Dilma Rousseff (2011-2014). Assumiu falando em usinas "termas", mas acostumou-se a dizer "térmicas". Na sua carreira conseguiu muito. É nome de município (18 mil habitantes), fez de um filho senador (cavalgando a suplência) e da mulher deputada federal. Tem uma emissora de televisão e rádios. Os interesses de sua família incluíram uma construtora e uma distribuidora de bebidas. Tudo isso e mais a amizade de José Sarney.

Com sua seca figura, Lobão atravessa tempestades sem perder a calma. Já foi acusado de participar do loteamento de fundos de pensão estatais, de companhias de eletricidade, da mina de Serra Pelada e do Instituto de Resseguros. Foi um dos primeiros marqueses jogados na frigideira da Operação Lava Jato e coleciona acusações de pelo menos sete colaboradores da Justiça, dois dos quais falaram em nome da Camargo Corrêa e da Andrade Gutierrez. O senador atravessa esse tiroteio negando qualquer má companhia, pois já chegou a se queixar: "Vejo com profunda tristeza. Fica difícil fazer parte da vida pública". Seu filho homônimo chegou a filosofar: "A ética é uma coisa subjetiva, muito abstrata".

O padrão Lobão de serenidade foi quebrado por Márcio, o filho do senador que desde 2008 dirige a Brasilcap, braço dos planos de capitalização do Banco do Brasil. Grande comprador de obras de arte, casou-se com a filha de um dos maiores colecionadores do país e empregou-a no gabinete do pai. Ele foi sócio de um ruinoso presidente do fundo Postalis numa importadora de BMWs, mas sempre manteve-se discreto.

Sérgio Machado localizou-o informando que lhe passava R$ 300 mil mensais de sua caixa de propinas. A informação foi divulgada pelo repórter Lauro Jardim, a quem Márcio Lobão mandou uma carta dizendo o seguinte:

"O delator Sérgio Machado é um rato roedor. Roeu a decência. Roeu o respeito pelo próximo. Roeu a própria família, inclusive o filho, e agora, de forma vil e irresponsável, está a roer todos os amigos do seu falecido pai [...] roendo também a educação que recebeu".

Por duas vezes, chamou Machado de "cagueta" e, para felicidade geral, anunciou que vai processá-lo. Se isso acontecer, virão por aí fortes emoções.

Celso Furtado, teoria e prática
Celso Furtado viveu 84 anos, foi superintendente da Sudene, ministro do Planejamento e da Cultura e nunca teve seu nome envolvido no sumiço de um só alfinete. Em 2011, o comissariado petista lançou ao mar o petroleiro que leva seu nome, e Dilma Rousseff discursou festejando a obra da Transpetro: "No Brasil, muita gente dizia que dava para crescer, mas que poucos ficariam ricos. Celso Furtado disse que crescimento era uma coisa e desenvolvimento era outra, que país só se desenvolvia se o povo crescesse junto".

Em 2015, o estaleiro de onde saiu o "Celso Furtado" fechou, desempregando 2.000 trabalhadores, mas uns poucos maganos ficaram ricos.

A memória do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, mostrou a distância que há entre as teorias de Celso Furtado e a prática da criação de polos navais no Brasil. Desde 1955, os contribuintes financiaram três, e todos quebraram.

Machado contou que a construção do "Celso Furtado" atrasou e que ele embolsou um capilé para aliviar o valor da multa. Em 2011, a Transpetro contratou a construção de oito navios, metendo Sérgio Buarque de Holanda e o economista Rômulo de Almeida na fantasia. O contrato ficou em US$ 536 milhões. A lasca de Machado foi de US$ 1,5 milhão.


Maus modos
Com a chegada de Michel Temer ao Planalto, os bons modos regressaram ao Palácio. Estavam ausentes desde 2003, quando Fernando Henrique Cardoso deixou o prédio.
Temer não é apenas bem educado, chega a ser um virtuoso das boas maneiras. Exatamente por isso deveria controlar a ferocidade de seus janízaros. Cortar a entrega da cópia da seleção diária de textos da imprensa para a presidente afastada, Dilma Rousseff, foi pura mesquinharia.

O Palácio da Alvorada, onde vive a senhora, já ficou sem energia seis vezes. Se foi problema técnico, deu-se um caso de incompetência. Se não, foi molecagem.

Os pornopoderes
Pelo que se sabe do papelório que a Procuradoria-Geral da República encaminhou ao STF (Supremo Tribunal Federal) justificando seu pedido de prisão dos pajés do PMDB, a principal acusação é a de que estivessem tentando obstruir a ação da Justiça.

"Obstrução da Justiça" é coisa que cai na velha observação do juiz americano Potter Stewart a respeito da pornografia: "Não sei defini-la, mas reconheço-a quando a vejo".

No polígono Brasília-Rio-São Paulo-Curitiba há umas 5.000 pessoas que se julgam suficientemente poderosas para ajudar empresários e políticos enredados pela Lava Jato. São senhores que ajudam amigos como se cumprissem regras da boa educação.

A quem interessar possa:
Se A pede a B que fale com C para pedir a D um alívio nas referências a E em seu depoimento ao Ministério Público, está tentando obstruir a ação da Justiça. Se der certo, corre o risco de dormir na cadeia.

Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota deliberado e aprende muito com o prefeito Eduardo Paes, do Rio. Em janeiro, o doutor inaugurou a ciclovia Tim Maia e, em abril, ela desabou. Há duas semanas, inaugurou o elevado do Joá e nele apareceram buracos. O prefeito explicou: "Tem um problema, sim, de qualidade da mão de obra no Brasil, e material, enfim... Tem que se dar uma olhada nisso".

Eremildo acha que se comete uma injustiça quando se pensa que Paes culpava os peões da empreiteira Odebrecht, cujo presidente foi para a cadeia. O idiota garante que Paes opinava sobre a qualidade da mão de obra dos prefeitos, governadores e presidentes.

Protegidos
Deve haver muita gente com raiva de Sérgio Machado, inclusive um pessoal acostumado a resolver problemas a bala. Vale informar que uma das primeiras condições negociadas para sua colaboração foi a garantia da proteção para Machado, a mulher e seus três filhos.

Caiu a ficha
Algumas dezenas de deputados deram-se conta de que a proteção dada a Eduardo Cunha não será suficiente para salvá-lo da Justiça.

Esforço vão, servirá apenas para desmoralizar a Casa.

Falta de assunto
O comissariado voltou a falar em convocação de um plebiscito para se decidir se é conveniente realizar nova eleição presidencial. Parece só uma proposta esdrúxula, mas é menos que isso. Trata-se apenas de falta de rumo. Desde 2013, quando o ronco das ruas assustou o governo, sempre que o comissariado não sabe o que fazer, propõe um plebiscito. Na ocasião, o vice-presidente Michel Temer mostrou que aquilo não passava de maluquice.

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