- Folha de S. Paulo
Supremo e Congresso devem protagonizar tensões na era Bolsonaro
O sistema de contrapesos da praça dos Três Poderes deve passar por novas tensões a partir de 2019. A quarta-feira (31) em Brasília teve uma prévia da dinâmica das relações entre Executivo, Legislativo e Judiciário com a posse de Jair Bolsonaro e do próximo Congresso.
Pela manhã, parlamentares tentaram pegar carona na popularidade do presidente eleito para votar um projeto que pode enquadrar movimentos sociais como terroristas. O alvo é o MST, mas o texto fala em punir atos que tenham “motivação política, ideológica ou social”.
Opositores de Bolsonaro argumentam que já existem penas previstas para quem incendeia, saqueia ou depreda ônibus e outros bens públicos. Eles dizem que o texto restringe o direito à manifestação.
Relator do texto, o senador Magno Malta (PR-ES) tentou aprovar o texto a jato na Comissão de Constituição e Justiça. Seus adversários queriam ganhar tempo com a convocação de uma discussão mais ampla sobre o tema.
Malta cedeu. “Vamos aprovar uma audiência pública, um mal menor”, disse. Ele tinha pressa porque não se reelegeu e estará fora do Congresso no ano que vem. Em geral, quem deseja atropelar a oposição considera qualquer debate um problema.
Horas depois, uma comissão da Câmara também surfou na retórica de Bolsonaro para pautar o projeto batizado de Escola Sem Partido. Os defensores da proposta dizem querer evitar “propaganda político-partidária em sala de aula”. Na prática, o texto incita uma vigilância permanente sobre professores. Houve bate-boca e a votação foi adiada.
No Congresso que tomará posse em fevereiro, deve haver maioria para aprovar esses projetos. O STF tem emitido sinais de que pretende conter excessos contra liberdades de expressão e de atuação política.
Ao julgar uma ação que condenou a entrada de policiais em universidades às vésperas da eleição para aprender materiais, o ministro Celso de Mello deu o recado: “O peso da censura é algo insuportável e absolutamente intolerável”.
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