Obsessões
de baixa intensidade são rotineiras; algumas, porém, agravam de modo patológico
A CPI da Covid vem
comprovando o que já se sabia: os crimes de responsabilidade do presidente
Bolsonaro no trato da crise sanitária foram muitos e graves; alguns decorrentes
de suas obsessões. Uma delas, a cloroquina, conhecida até pelas emas do Palácio
da Alvorada, está no centro das investigações.
Os depoimentos dos ex-ministros da Saúde, os médicos Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, deixaram claro que a resistência quanto à prescrição dessa droga concorreu para a demissão de ambos. Por sua vez, o depoimento do atual ministro, o médico Marcelo Queiroga, constrangeu pelo esforço em não corroborar o seu uso nem melindrar o cloroquinismo presidencial. Já o ex-ministro general Pazzuelo, que se submeteu sem restrições a todos os caprichos do presidente, esquivou-se de depor com desculpa pouco convincente.
Obsessões
de baixa intensidade são rotineiras; algumas, porém, podem evoluir para a
gravidade patológica. O tema é recorrente na literatura e foi bastante
explorado por Machado de Assis. Brás Cubas, por exemplo, tinha uma ideia fixa:
"Deus te livre, leitor, de uma ideia fixa; antes um argueiro, antes uma
trave no olho", desabafa o defunto autor, cuja ideia era nada menos que um
medicamento sublime, um emplasto que lhe daria "o primeiro lugar entre os
homens, acima da ciência e da riqueza".
Refletindo
sobre sua obsessão, o finado confessa que o gosto de ver as três palavras
—Emplasto Brás Cubas— impressas nos jornais, folhetos e caixinhas de remédio
foi o que mais o influiu: "a minha idéia trazia duas faces, como as
medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e
lucro; de outro, sede de nomeada. Digamos: – Amor da glória".
Para Brás Cubas, sua ideia fixa era também seu orgulho: "tinha o emplasto no cérebro; trazia comigo a ideia fixa dos doidos e dos fortes". Isso é a cara de Bolsonaro. Que ele se julga um forte, não há dúvida. E já não são poucos os que o consideram doido.
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