Folha de S. Paulo
Bolsonarismo nunca escondeu que encara as
relações de trabalho como uma arma política
Na campanha de 2018, Jair Bolsonaro fez um
giro por associações empresariais e prometeu
que os patrões teriam um governo amigável. Nesses eventos, ele disse que os
trabalhadores deveriam fazer uma escolha: preservar seus direitos e enfrentar o
desemprego ou aceitar menos direitos para manter o emprego.
O bolsonarismo nunca escondeu que encara as relações de trabalho como uma arma política. Segundo essa filosofia, a ameaça de fechamento de vagas (de forma velada ou explícita) pode ser usada tanto para reduzir os mecanismos de proteção aos empregados como para conseguir votos na eleição.
O empresário Luciano Hang puxou a fila
ainda na disputa passada, sem muito pudor. Antes do primeiro turno, ele
divulgou um vídeo em que insinuava
a possibilidade de demissões caso a esquerda vencesse. "Se não abrir
mais lojas e nós voltarmos para trás, você está preparado para sair da
Havan?", perguntou aos funcionários. Depois, ele sofreu uma condenação na
Justiça do Trabalho.
O terrorismo eleitoral se espalhou por
lojas e fábricas na disputa de 2022. O presidente de uma empresa do setor
têxtil em Santa Catarina chamou
trabalhadores para dizer que poderia cortar vagas se Bolsonaro não
fosse reeleito. No Pará, o dono de uma indústria de cerâmica disse aos
empregados que empresas corriam o risco de fechar e ofereceu
R$ 200 a cada um deles em caso de vitória do atual presidente.
Em maio, o próprio Bolsonaro chegou a pedir
que empresários trabalhassem
para virar votos entre seus funcionários. Não falou em dinheiro, mas pediu
a pelo menos dois grupos de patrões que reunissem trabalhadores para falar dos
perigos da Venezuela e de uma vitória da esquerda.
Tudo indica que a turma que apoia Bolsonaro no empresariado encontrou alguma dificuldade para convencer os trabalhadores de que os quatro anos de governo do capitão o credenciam para mais um mandato. As ameaças e a tentativa de compra de votos só costumam entrar em cena quando acaba a saliva.
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