Daniel Gullino / O Globo
CCJ da Casa aprovou propostas que alteram o
funcionamento a Corte; Lira indicou a aliados que elas não vão a plenário
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto
Barroso, afirmou nesta quinta-feira que não se pode mexer em
"instituições que estão funcionando" em função de "ciclos
eleitorais". Na quarta-feira, avançaram na Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) da Câmara projetos que
alteram o funcionamento da Corte, limitando, por exemplo, as
decisões individuais dos ministros. Barroso fez um pronunciamento no início da
sessão do STF.
— Não se mexe em instituições que estão funcionando, e cumprindo bem a sua missão, por injunções dos interesses políticos circunstanciais e dos ciclos eleitorais. As constituições existem precisamente para que os valores permanentes não sejam afetados pelas paixões de cada momento. Nós aqui seguimos firmes na defesa da democracia, do pluralismo e da independência e harmonia entre os Poderes.
Decano da Corte, o ministro Gilmar Mendes falou
em seguida e destacou a atuação do STF:
— Se a política voltou a respirar ares de
normalidade, isso também se deve à atuação firme deste tribunal. E o tribunal
não fez nada mais, nada menos, do que o seu dever de defender a democracia, o
Estado de Direito e os direitos fundamentais.
Os dois ministros também ressaltaram os 36
anos da promulgação da Constituição de 1988 — celebrados no último sábado — e a
atuação da Justiça Eleitoral, especialmente com as urnas eletrônicas.
— Como toda instituição humana, o Supremo é
passível de erros e está sujeito a críticas e a medidas de aprimoramento.
Porém, se o propósito de uma Constituição é assegurar o governo da maioria, o
Estado de Direito e os direitos fundamentais, e se o seu guardião é o Supremo,
chega-se à reconfortante constatação de que o tribunal cumpriu o seu papel e
serviu bem ao país nesses 36 anos de vigência da Carta de 1988.
Gilmar ressaltou o "mais longo período
de normalidade institucional" e disse que o STF sempre soube
"valorizar a política":
— É o mais longo período de normalidade
institucional da vida republicana, iniciada em 1889. E este tribunal valorizou
a democracia, valorizou a normalidade institucional e soube sempre valorizar a
política, entendendo que sem política não se faz democracia
Articulada pela oposição ao governo de Luiz
Inácio Lula da Silva, a CCJ aprovou uma PEC que limita decisões individuais de
ministros da Corte e deu aval ao texto que dá poder ao Congresso para derrubar
decisões do Supremo que “extrapolem os limites constitucionais”. Além disso,
avançou com dois projetos que facilitam o andamento de pedidos de impeachment
contra ministros do tribunal. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),
sinalizou a aliados que não pretende pautar no plenário da Casa o pacote “anti-STF”.
Pacote na CCJ
Pela manhã, foi aprovada a PEC que limita
decisões individuais de ministros da Corte. Foram 39 votos favoráveis e 18
contrários à iniciativa. O texto estabelece os seguintes pontos:
proíbe decisões individuais que suspendam a
eficácia de leis ou atos dos presidentes da Câmara e do Senado
permite decisões individuais apenas para a
suspensão de eficácia de lei durante o recesso do Judiciário, em casos de grave
urgência ou risco de dano irreparável, com prazo de 30 dias para o julgamento
colegiado após o fim do recesso;
determina o prazo de seis meses para o
julgamento de ação que peça declaração de inconstitucionalidade de lei, após a
decisão cautelar
Pela tarde, o grupo deu aval ao texto que dá
poder ao Congresso para derrubar decisões do Supremo que “extrapolem os limites
constitucionais”. Foram 38 votos a favor e 12 contrários.
Já quase no início da noite, a comissão
aprovou um projeto de lei, com o substitutivo de autoria do deputado Alfredo
Gaspar (União-AL), que cria outros cinco crimes de responsabilidades para os
ministros do STF. Atualmente, são cinco e, com isso, seriam 10 as ações que
poderiam levar a um impeachment de membros da Corte. Além disso cria um prazo
de 15 dias para a Mesa do Senado responder aos pedidos de impeachment. Hoje,
não há prazo. Foram 36 votos a favor e 12 contra.
Ministros avaliam que pacotes são
inconstitucionais
Como o GLOBO mostrou, parte dos ministros do
STF avaliam que as propostas, caso aprovadas, devem acabar sendo alvo de
questionamentos na Corte – a quem caberá dar a palavra final sobre o tema.
Esses integrantes do tribunal entendem
ainda que as PECs têm o chamado "vício de origem"– e que,
por não terem sido propostas pelo Supremo, não podem atingir questões internas
do Judiciário. Observam ainda que as propostas ferem o princípio da separação
de Poderes.
Ministros lembram que uma das propostas, a
que limita decisões individuais, já foi alvo de um mandado de segurança. O
processo foi apresentado pelo deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) e
pede que seja interrompida a tramitação da PEC na Câmara.
No último dia 7, o ministro Nunes Marques, relator do mandado de segurança, pediu informações ao Congresso diante da iminente análise do tema pelos deputados. No pedido, Paulinho da Força argumenta que a proposta analisada no Congresso fere a cláusula pétrea da Constituição que prevê a independência e separação de Poderes.
2 comentários:
Está passando da hora do Congresso em impor limites ao STF que hoje é uma corte ditatorial que assumiu os poderes Executivo e do legislativo , está mandando e desandando atropelando a Constituição que ela deveria defender
Essas medidas de controle são muito bem vindas
Anônimo piadista... kkkkkk
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