quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Bruno Boghossaian – RIP direita moderada?

Folha de S. Paulo

Divisão nas eleições municipais deixa sequelas no rótulo da 'direita moderada'

A contestação à liderança de Jair Bolsonaro será só uma das sequelas na direita após as eleições municipais. O ex-presidente deve preservar esse papel, mas a vacilação entre candidatos tradicionais e radicais terá impacto sobre as escolhas de seu grupo e pode afetar a definição de seu sucessor.

divisão da direita assumiu três formas principais. Em algumas cidades, Bolsonaro apoiou políticos considerados moderados e foi ameaçado por candidatos mais radicais. Em outras, lançou nomes de extrema direita e dividiu os votos com candidatos de direita. No terceiro cenário, os radicais varreram os votos desse campo. Foram poucos os municípios com peso político relevante em que a direita moderada atropelou a extrema direita.

A disputa em São Paulo se encaixou na primeira categoria. O apelo de Pablo Marçal foi potencializado pela ideia de que Bolsonaro havia sido domesticado pelo "sistema", apoiando Ricardo Nunes. O influenciador perdeu, mas a escolha causou um dano grave de reputação ao ex-presidente.

Houve situações em que Bolsonaro permaneceu fiel ao próprio extremismo. Em Goiânia, ele ignorou um candidato de direita e apoiou um nome mais radical. Em Curitiba, o ex-presidente trocou de candidato nos últimos dias para evitar outro caso Marçal. Nas duas capitais, o bolsonarismo raiz foi para o segundo turno contra a direita tradicional.

Em Cuiabá, Fortaleza e Belo Horizonte, expoentes de uma direita digital, raivosa e abertamente golpista dominaram o campo político e deixaram para trás opções mais próximas do centro.

A experiência destas eleições dá ao bolsonarismo incentivos para fincar seus pés na extrema direita no próximo ciclo eleitoral.

Uma campanha presidencial de Tarcísio de Freitas como candidato da direita moderada, em aliança com Gilberto Kassab, por exemplo, correria o risco de ser desafiada por um nome à sua direita. O governador poderia fechar a brecha num abraço genuíno com o bolsonarismo radical.

A candidatura de um Eduardo Bolsonaro, por outro lado, pode até ser contestada na direita por nomes como Ronaldo Caiado ou Ratinho Júnior, mas nenhum deles parece representar uma ameaça ao bolsonarismo até aqui.

 

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