domingo, 8 de junho de 2025

Notícias de uma guerra particular - Bernardo Mello Franco

O Globo

Ególatras, presidente e empresário usam suas próprias redes para trocar insultos e ameaças

O Salão Oval ficou pequeno demais para Donald Trump e Elon Musk. O presidente do país mais poderoso do mundo e o homem mais rico do planeta pareciam inseparáveis. Agora se tornaram inimigos viscerais, que trocam insultos e ameaças em público.

A aliança trincou no fim de maio, quando Musk começou a criticar o novo plano de gastos da Casa Branca. O mal-estar virou barraco nesta quinta-feira, após Trump sugerir que o dono da Tesla ficou irritado porque ele cortou o subsídio aos carros elétricos.

“Estou muito decepcionado com o Elon. Eu o ajudei muito”, afirmou o republicano. “Sem mim, Trump teria perdido a eleição. Que ingratidão”, devolveu Musk.

Em poucas horas, as provocações descambaram para a baixaria. O empresário ligou o presidente a um escândalo de prostituição e exploração sexual de menores. Trump disse que o ex-amigo está louco e escalou a porta-voz do governo para fustigá-lo.

Num sinal dos tempos, cada bilionário atacou o outro a partir de sua própria rede social. Musk usou o X, convertido numa câmara de eco da extrema direita. Trump respondeu na Truth Social, que fundou para espalhar mentiras sem ser contestado. Ególatras e megalômanos, os dois investem em palanques eletrônicos para despejar ressentimento, intimidar adversários e ostentar poder e popularidade.

No dia do rompimento, Musk perdeu US$ 26 bilhões (cerca de R$ 144 bilhões) em ações. Nada tão grave para quem tinha a fortuna estimada em US$ 414 bilhões (R$ 3,2 trilhões) pela Forbes.

Se a cizânia entre os magnatas era previsível, é difícil não se espantar com a desfaçatez com que os dois submetem assuntos de Estado a seus interesses privados. O presidente ameaçou cancelar os contratos do governo com as empresas de Musk, como se fosse o dono do dinheiro público. O sul-africano ameaçou desativar uma nave que transporta astronautas da Nasa, o que causaria prejuízos ao programa espacial americano.

Na quinta fatídica, Trump esboçou uma tese com base em conflitos no jardim de infância: “Às vezes você vê duas crianças pequenas brigando feito loucas. Elas se odeiam e estão brigando num parquinho. Você tenta separá-las, mas elas não querem ser separadas. Às vezes, é melhor deixá-las brigar por um tempo”.

Falava do confronto entre Rússia e Ucrânia, mas vale para sua guerra particular com Musk.

Bretas rodopiou e caiu

O Conselho Nacional de Justiça expulsou Marcelo Bretas da magistratura. O juiz conduziu os processos que levaram Sérgio Cabral e comparsas para a cadeia. Depois pôs a toga a serviço do projeto político de Wilson Witzel.

Os conselheiros concluíram que Bretas manobrou uma delação para prejudicar Eduardo Paes na campanha de 2018. Após a vitória de Witzel, juiz e governador confraternizaram em camarotes do Maracanã e da Sapucaí.

O ministro Luís Roberto Barroso resumiu o caso como “um conjunto muito amplo de condutas impróprias e totalmente inaceitáveis para um magistrado”.

A exemplo de Sergio Moro, Bretas se encantou com a fama e a possibilidade de interferir em eleições. Numa cena inesquecível, rodopiou no palco de um evento evangélico ao lado de Jair Bolsonaro e Marcelo Crivella.

Até segunda ordem, a queda não será tão dolorida. Aposentado, ele continuará a receber salário integral de R$ 39,7 mil.

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