sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Negociação Brasil-EUA sobe de patamar, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

A conversa do chanceler Mauro Vieira com o secretário de Estado Marco Rubio consolidou a determinação de Donald Trump em perseguir séria e objetivamente as negociações e a aproximação com o Brasil. “É para valer”, concluíram participantes da reunião. Trump não estava brincando, Rubio não está trucando e o pragmatismo unirá os dois países.

Se esse foi considerado pelo lado brasileiro como o principal resultado político do encontro de uma hora no Eisenhower Building, ao lado da Ala Oeste da Casa Branca, houve também avanços práticos, como a decisão de definir o cronograma de reuniões e os representantes dos dois lados para tratar de temas técnicos.

Helicópteros dos EUA se aproximavam da Venezuela no mesmo dia do encontro, depois de Trump autorizar a atuação da CIA e investidas por terra no país, o que Planalto, Defesa e Itamaraty consideram inaceitável. Se Vieira e Rubio trataram da questão, foi nos 15 minutos a dois, cercado de discrição. Nada na reunião com assessores.

Também chegou a Brasília que o quase ex-deputado Eduardo Bolsonaro e o “influencer” Paulo Figueiredo, que estão por trás dos ataques de Trump ao Brasil, se encontraram com Rubio na quartafeira. Até a noite desta quinta, porém, o Itamaraty só conseguiu confirmar que os dois foram ao Departamento de Estado, mas não o quê e com quem falaram. Com Rubio?

A evolução dos contatos entre os dois países mostra que os EUA conferem importância ao Brasil nas Américas e também como é a estratégia de Trump, que primeiro ataca, depois pinça “enviados especiais” para sentir o clima e, por fim, quando convencido de que vale a pena, estabelece negociações institucionais.

Apesar das suspeitas e das versões bolsonaristas diante do anúncio de Rubio como negociador chefe, a entrada dele em cena marca exatamente a mudança de patamar no processo, quando as conversas deixaram de ser de bastidores, sigilosas, e passaram a ser anunciadas e públicas, assumindo o status de compactuação entre dois governos, ou dois Estados.

É hora de Brasil e EUA formalizarem suas condições, com a disposição, mais ou menos dissimulada, de, eventualmente, ceder, seja para recuar de uma ou outra de suas propostas, seja para acatar as do outro lado. Isso exige tempo, paciência e o “approval” dos presidentes.

O Brasil foca em comércio e sanções a autoridades, mas avaliando o quanto ceder a Trump em: abertura ao etanol dos EUA, regulamentação das redes sociais e defesa de uma moeda dos Brics alternativa ao dólar. Além de definir perdas, ganhos e parâmetros de um acordo de cooperação para a exploração de terras raras brasileiras, que, consumado, terá de ser muito bem explicado para o mundo e para os brasileiros.

 

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