DEU EM O GLOBO
Quatro dias após o início dos ataques que aumentaram a sensação de insegurança no Rio, o governo do estado decidiu preparar sua principal ofensiva contra o terror imposto pelo tráfico. O objetivo é dominar a Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão, que se transformaram no maior bunker de traficantes cariocas desde que migraram para lá bandidos expulsos de favelas ocupadas por Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). O governador Sérgio Cabral Filho pediu apoio logístico à Marinha, que vai fornecer blindados e equipamentos. A PM decretou estado de prontidão em todas as unidades da Região Metropolitana. Ontem, até o final da noite, a corporação fez incursões em 28 favelas, resultando na morte de 18 pessoas e 41 presos - desde domingo, já morreram 22. A Policia Civil foi a outras duas favelas. Entre a madrugada e o início da noite, 28 veículos (oito dos quais ônibus) foram incendiados em ataques do tráfico. Pela primeira vez, quatro pessoas ficaram feridas no incêndio de uma van e uma outra num ônibus.
Ataque ao bunker do tráfico
A GUERRA DO RIO
Com apoio da Marinha, estado prepara ação na Vila Cruzeiro para acabar com atentados
Ana Cláudia Costa, Gustavo Goulart e Vera Araújo
Quatro dias após o início dos ataques que aumentaram a sensação de insegurança no Rio, o governo do estado decidiu preparar sua principal ofensiva contra o terror imposto pelo tráfico. O objetivo é dominar a Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão, que se transformaram no maior bunker de traficantes cariocas desde que migraram para lá bandidos expulsos de favelas ocupadas por Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). O governador Sérgio Cabral Filho pediu apoio logístico à Marinha, que vai fornecer blindados e equipamentos. A PM decretou estado de prontidão em todas as unidades da Região Metropolitana. Ontem, até o final da noite, a corporação fez incursões em 28 favelas, resultando na morte de 18 pessoas e 41 presos - desde domingo, já morreram 22. A Policia Civil foi a outras duas favelas. Entre a madrugada e o início da noite, 28 veículos (oito dos quais ônibus) foram incendiados em ataques do tráfico. Pela primeira vez, quatro pessoas ficaram feridas no incêndio de uma van e uma outra num ônibus.
Ataque ao bunker do tráfico
A GUERRA DO RIO
Com apoio da Marinha, estado prepara ação na Vila Cruzeiro para acabar com atentados
Ana Cláudia Costa, Gustavo Goulart e Vera Araújo
O governo do estado prepara uma grande ofensiva contra o tráfico na Vila Cruzeiro, programada para começar na madrugada de hoje. Principal reduto do tráfico no Rio, a Vila Cruzeiro, junto com o Complexo do Alemão, se transformou no maior bunker de traficantes cariocas, recebendo bandidos de comunidades ocupadas por Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). O governador Sérgio Cabral pediu apoio à Marinha do Brasil, que garantiu suporte logístico, como veículos blindados, armas, munição e óculos de visão noturna.
Em entrevista ontem ao "Jornal Nacional", da TV Globo, o governador afirmou que recebeu um fax do ministro da Defesa, Nelson Jobim, garantindo total apoio:
- Acabamos de solicitar ao ministro Nelson Jobim e ao almirante Julio (Soares de Moura), comandante da Marinha, o apoio logístico, com transporte, viaturas e equipamentos importantíssimos para o combate a esses criminosos.
O governador ressaltou que a Marinha não vai atuar diretamente no combate aos atentados no Rio.
- Não é apoio de efetivo. A Marinha não vai se envolver. Vai ceder esses equipamentos para a operação da Polícia Militar.
Todos os batalhões da Região Metropolitana estão de prontidão. Ontem, as polícias Militar e Civil fizeram operações simultâneas em 29 favelas. Os alvos principais são os responsáveis pelos ataques que estão apavorando a população. Só a PM fez incursões em 27 comunidades, resultando na morte de 18 pessoas e na detenção de 153 (21 ficaram presas após serem ouvidas).
PM apreende 1t de maconha na Penha
Ontem, a Polícia Militar ensaiou uma investida nos morros da Chatuba e da Fé, no Complexo da Penha, ocupando os principais acessos. As comunidades fazem parte de um conjunto de morros que forma os complexos da Penha e do Alemão, onde está a maior facção criminosa do Rio. Só nessa ação, quatro pessoas morreram e 25 pessoas foram detidas. Há ainda 14 feridos no Hospital Getúlio Vargas e dois policiais militares baleados de raspão. Entre os mortos, está uma menina de 14 anos, vítima de uma bala perdida na Favela do Grotão, na Penha.
De acordo com o balanço da PM, foram apreendidas 14 armas pistolas e revólveres, dois fuzis, uma espingarda calibre 12, uma submetralhadora, uma granada e duas bombas artesanais nas operações de ontem. Na Chatuba, foi apreendida também uma tonelada de maconha.
Segundo o relações-públicas da PM, coronel Henrique Lima Castro, a corporação pôs 17.500 militares nas ruas e reforçou o policiamento nas UPPs, temendo que as unidades fossem alvos dos bandidos:
- Não começamos esta guerra. Fomos provocados a entrar nela e vamos sair vitoriosos. A gente tem fôlego para isso. Ainda não usamos o pessoal que está de férias e o do interior.
Câmera flagrou bandidos em favela
A ação policial começou simultaneamente nas favelas por volta da 9h. Enquanto equipes da Polícia Civil entravam nas favelas de Manguinhos e Jacarezinho, PMs de diversos batalhões se reuniram no 41º BPM (Irajá) e, de lá, partiram para invadir as favelas do Complexo da Penha. O fato ocorreu logo depois de um câmera no helicóptero da TV Globo flagrar cenas, no início da tarde, de homens fortemente armados e circulando em motos num dos acesso à Vila Cruzeiro. O Batalhão de Operações Especiais (Bope) ocupou os acessos e não vai sair de lá, até a ocupação completa da favela hoje. Para isso, estavam sendo requisitados blindados de outros batalhões.
Quando o Bope chegou, traficantes, por meio de radiotransmissores, alertavam para o posicionamento dos blindados da polícia. Comerciantes do Largo da Penha optaram por fechar as portas, temendo balas perdidas. A intensa troca de tiros deixou o Largo da Penha deserto. Até os camelôs recolheram as barracas. Traficantes armados de fuzil circulavam pelas escadarias da Igreja da Penha e atiravam em direção aos policiais. Um carro blindado do Bope foi atingido por duas bombas de fabricação artesanal e ficou com os dois pneus furados.
PMs de vários batalhões entraram pelos dois acessos da Avenida Vicente de Carvalho e invadiram o Morro da Fé, vizinho à Vila Cruzeiro. A avenida, uma das mais movimentadas da região, foi fechada. Às 9h30m, começou um confronto. As rajadas de fuzil foram contínuas por pelo menos uma hora. Houve correria entre os moradores. Muitos não puderam subir. Uma casa de shows e um posto de gasolina serviram de abrigo para crianças que haviam saído da escola.
As ações da polícia se estenderam pelos morros da Chatuba, do Sereno e da Caixa D"Água. Durante um dos confrontos, Álvaro Lopes, de 81 anos, foi baleado de raspão no braço, na porta de sua empresa, na Rua Cajá. Um morador não identificado foi baleado de raspão. Por conta da troca de tiros nas favelas da região, a direção do Hospital Getúlio Vargas divulgou um alerta a todos os profissionais da emergência, para ficarem a postos para atender baleados. Na saída do hospital, Álvaro contou o drama por que passou.
- Eu estava na porta da empresa. Ouvi os tiros e senti uma queimação no braço. Moro aqui há 40 anos e já imaginava que essa guerra ia ser assim - disse.
Por volta das 13h, cerca de 80 homens do Bope chegaram à Penha. Eles fecharam a Avenida Brás de Pina para que as equipes pudessem passar. O comboio foi aplaudido por motoristas, que, presos no engarrafamento, pediam a ação imediata da polícia na região. As equipes foram entrando aos poucos, nas favelas da Chatuba e Caixa D"Água, que fica atrás do Parque Ary Barroso, onde há uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Apesar do intenso tiroteio, durante o qual pacientes tiveram que se abaixar, o atendimento não foi interrompido.
O motorista de uma cooperativa de táxi, Rafael Ramos, de 33 anos, disse que sua empresa, por precaução, não está atendendo mais chamados entre Vicente de Carvalho e Penha. Já o aposentado Valdemar da Rocha, de 75 anos, disse que já está acostumado com confrontos na região, mas nunca viu um igual ao de ontem.
- Moro aqui há 40 anos e é normal haver tiros na Penha. Sempre houve bandido. Mas tiroteio igual ao de hoje (ontem), com rajadas sem parar, eu nunca tinha visto - disse.
Além de favelas na Penha, a PM esteve no Morro do Tuiuti, em São Cristóvão, no Morro da Cotia, no Grajaú, na Favela Faz Quem Quer, em Rocha Miranda, e na Vila Kennedy. Na Zona Sul, a ação no Morro do Cerro-Corá assustou moradores do Cosme Velho. Houve um intenso tiroteio. A PM também esteve no Morro do Santo Amaro, no Catete. Na Baixada, ocorreram incursões em cinco comunidades. A Polícia Civil esteve em Manguinhos e no Jacarezinho.
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