quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

No Rio, PSD vira 'feudo' de evangélicos

Bancada na Assembleia Legislativa, de 13 integrantes, tem cinco titulares ligados a igrejas protestantes, além de uma missionária católica

Luciana Nunes Leal

RIO - O PSD pode até não ser de direita, esquerda ou centro, como já definiu o fundador e presidente do novo partido, Gilberto Kassab, mas, no Rio de Janeiro, começa a consolidar um perfil conservador com forte vínculo religioso. Dos 13 deputados estaduais titulares - a maior bancada da Assembleia Legislativa -, cinco são evangélicos, e uma, a atriz Myrian Rios (ex-PDT), é missionária católica.

Desde a semana passada, o partido tem um 14.º parlamentar, o suplente Hélcio Ângelo (ex-PSDB), também evangélico, que assumiu a vaga do deputado Comte Bittencourt (PPS).

Entre os deputados religiosos do PSD está Samuel Malafaia (ex-PR), irmão do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que se destacou na campanha eleitoral de 2010 pelos ataques à então candidata Dilma Rousseff, a quem atribuiu a defesa do aborto. Já Myrian Rios (ex-PDT) provocou a ira dos homossexuais, em 2011, ao declarar que não contrataria empregados gays em sua casa. Também participou da campanha "Todos contra o sexo anal".

Ingressaram ainda na nova legenda o deputado Fábio Silva (ex-PR), filho do empresário Francisco Silva, da Congregação Cristã do Brasil, dono da Melodia, uma das maiores rádios gospel do País, e Marcos Soares (ex-PDT), filho do pastor R. R. Soares, missionário da Igreja Internacional da Graça.

"Foi uma bênção, mas não tem a ver com religião e sim com o fato de que eu estava insatisfeito com a liderança do Garotinho. Encontramos ar novo no PSD", disse Samuel Malafaia, ao comentar o ingresso no novo partido. O parlamentar deixou o PR do ex-governador e deputado Anthony Garotinho, da Igreja Presbiteriana.

"Houve uma fase em que evangélicos votavam em evangélicos. Em 2006, eles seguraram os votos, acho que pelo envolvimento de alguns políticos evangélicos em escândalos, como o mensalão. Caí de 60 mil votos em 2002 para 35 mil em 2006 e não fui reeleito. Em 2010, com essa história de casamento gay, de lei da homofobia, acredito que os evangélicos reagiram e voltaram aos candidatos em quem confiavam para ir contra esta onda", disse Malafaia, terceiro mais votado no Estado, com 134,5 mil votos.

Segundo o deputado, o PSD está aberto a todas as correntes. "Um grupo no nosso partido vai defender os homossexuais. O PSD está disposto a conviver com ideias diferentes."

Para a deputada Graça Pereira, da Igreja Presbiteriana, que trocou o DEM pelo PSD, o que agregou os parlamentares no novo partido foi a insatisfação com as antigas legendas. "Não houve movimentação por conta de sermos religiosos", disse.

Mesmo após a migração de seis deputados evangélicos - entre titulares e suplentes - para o PSD, os dois políticos de maior influência religiosa no Estado estão em outros partidos. Garotinho tem o domínio do PR fluminense e o senador Marcelo Crivella é o mais influente do PRB, partido vinculado à Igreja Universal do Reino de Deus. O PR foi o partido que mais perdeu deputados estaduais para o PSD.

Na Assembleia, há pelo menos outros oito parlamentares evangélicos, espalhados por PMDB, PR, PRB e PMN. Além de Myrian Rios, outros dois deputados são líderes católicos, um do PMDB e outro do PSC.

Influência. Muitos deputados estaduais foram para o PSD pelas mãos do deputado federal Arolde de Oliveira, que está no oitavo mandato e mudou de partido depois de quase 30 anos nos antigos PDS e PFL e no DEM. Arolde, da Igreja Batista, é dono da gravadora de música gospel MK e da rádio evangélica 93 FM. O parlamentar diz que a composição da bancada do PSD reflete o perfil religioso da região metropolitana do Rio. "O PSD é reflexo da própria sociedade. Não é só o Estado do Rio, nós somos uma nação conservadora."

Dois episódios recentes reativaram a tensão entre evangélicos e o governo Dilma Rousseff. O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, católico fervoroso, teve de ir ao Congresso pedir desculpas por ter dito que o governo tinha de se preparar para enfrentar o poder de comunicação dos evangélicos. E a nova ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci, defensora da descriminalização do aborto, viu-se obrigada a esclarecer, após a posse, que o tema "não está na pauta do governo".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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