quinta-feira, 17 de maio de 2012

Inadimplência do consumidor cresce 4,8%

A inadimplência do consumidor aumentou 4,8% em abril ante março, puxada por dívidas não pagas de cartões de crédito, financeiras e outros compromissos, de acordo com a Serasa Experian. Foi a maior variação mensal para abril desde 2002. A pesquisa mostra, porém, que a renegociação de dívidas cresce com a queda dos juros.

Inadimplência do consumidor é recorde

Aumento em abril foi de 4,8% em relação a março e de 23,7% na comparação com mesmo mês do ano passado; alta é a maior em dez anos

Marcelo Rehder, Márcia de Chiara

A inadimplência do consumidor deu um salto de 4,8% em abril na comparação com março. Foi a maior alta para o mês em dez anos, de acordo com o indicador de atraso no pagamento das contas apurado pela Serasa Experian. Em relação a março do ano passado, a variação foi de 23,7%. No primeiro quadrimestre de 2012, a inadimplência cresceu 19,6%.

Para economistas da Serasa, o forte aumento da inadimplência mostra as dificuldades do consumidor de honrar as despesas de início de ano, que incluem o pagamento de impostos como o IPTU (propriedade de imóveis urbanos) e o IPVA (propriedade de veículos), matrícula escolar e primeiras parcelas das compras de Natal. Este ano, as dificuldades foram maiores, por causa do endividamento crescente do brasileiro, e se estenderam para além do mês de março, considerado o mais crítico do ano, avaliam os técnicos.

As lojas já sentem os efeitos da inadimplência sobre as vendas. Nos últimos meses, muitos consumidores se endividaram tanto - quando os juros ainda estavam mais elevados -, que agora não podem mais comprar a prazo, porque tiveram o nome incluído na lista negra de inadimplentes.

Um alto executivo de uma grande rede de varejo de eletroeletrônicos, que prefere ficar no anonimato, conta que, há menos de um ano, 9% das consultas para venda a crédito indicavam pessoas que estavam com o nome sujo na praça e, portanto, só poderiam comprar à vista. Hoje, segundo ele, esse número já chega a 40%.

Em março (último dado disponível), a inadimplência nos financiamentos de veículos no País bateu todos os recordes. Segundo dados do Banco Central, 5,7% dos financiamentos estavam com mais de 90 dias de atraso. Há um ano, a inadimplência no setor era de apenas 3%.

Não por acaso, os bancos passaram a ser mais restritivos na concessão de crédito, o que fez cair as vendas de automóveis. Montadoras e sindicalistas, por sua vez, recorreram ao governo para pressionar os bancos para liberar crédito e alimentar as vendas do setor.

Recuperação de crédito. Dados preliminares de maio da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) mostram que o calote do consumidor paulistano teve forte crescimento na primeira quinzena deste mês. Entre os dias 1.º e 15 de maio, o número de carnês com prestações atrasadas acima de 30 dias cresceu 3,6% em relação ao mesmo período do ano passado, depois de ter encerrado abril com alta de 1% na comparação anual.

Apesar de a taxa de crescimento ter mais que triplicado de um mês para outro, a pesquisa mostra que a renegociação de dívidas em atraso teve crescimento significativo. Na primeira quinzena de maio, cresceu 5,5% o número de carnês inadimplentes renegociados em relação aos mesmos dias de 2011. Em abril, o acréscimo do volume de dívidas renegociadas tinha sido de 3,2% em relação ao mesmo mês do ano passado.

"A inadimplência acelerou um pouco, mas o movimento de queda dos juros está contribuindo mais para a renegociação das dívidas em atraso do que para ampliar as vendas financiadas", observa o economista da ACSP, Emílio Alfieri. Ele diz que, com encargos menores, os consumidores estão lidando melhor com a inadimplência.

Para se ter uma ideia do impacto do juros na renegociação, o economista destaca que, da primeira quinzena de abril para a primeira quinzena de maio, o volume de dívidas atrasadas e refinanciadas cresceu 30,6%, enquanto a inadimplência subiu 9% na mesma base de comparação. Alfieri diz que o consumidor neste momento está aproveitando o juro baixo para limpar o terreno da inadimplência e, num segundo momento, deve voltar às compras.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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