- Folha de S. Paulo
Paulista aplica vacina, mas enfrentará outras dificuldades para recuperar votos
Vinte minutos depois do voto que selou a decisão de tornar Aécio Neves réu no STF (Supremo Tribunal Federal), Geraldo Alckmin fincou no chão a pá com a qual tentará cavar um fosso para separá-lo do senador mineiro. “Decisão judicial se cumpre. A lei é para todos, sem distinção”, afirmou.
Passadas 12 horas, o ex-governador paulista acionou uma escavadeira para acelerar a obra. Declarou ser “evidente” que Aécio não deveria ser candidato a nenhum cargo pelo PSDB este ano. Acrescentou que o mineiro precisa “se dedicar à questão processual e à sua defesa”.
O gesto pode parecer sutil, mas representa um sinal intenso porque foi emitido por alguém que ostenta o apelido de picolé de chuchu, devido a seu estilo “insosso”. Na prática, Alckmin rifou Aécio de maneira contundente, provocando incômodo entre aliados do mineiro.
O tucano paulista se apressou para demarcar um distanciamento porque sabe que não conseguirá carregar em sua cambaleante campanha presidencial o peso do colega, gravado pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista.
Em disputas recentes, o PSDB se beneficiou da absorção de um eleitorado antipetista, mas a imagem do partido se deteriorou por escândalos de corrupção. A polarização ficou turva e uma parcela crescente desse grupo passou a se aproximar de Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede) e Joaquim Barbosa (PSB).
Para o tucanato, a contaminação provocada pelo vínculo entre Aécio e o PSDB pode bloquear a recuperação desses votos. A corrupção e a ética certamente serão marcas da campanha. Alckmin, que responde a inquérito por caixa dois, deu início à tentativa de limpar o terreno.
Não se pode atribuir a Aécio a culpa pelo mau desempenho de Alckmin até aqui nesta corrida. O paulista aplicou uma vacina inicial em busca de preservação, mas a largada vacilante em seu próprio estado mostra que ele deve enfrentar outras dificuldades para direcionar os ex-tucanos de volta ao ninho.
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