- O Globo
Eleição deste ano é anormal e acontece em um tempo de mudanças e inusitados, por isso o seu resultado é imprevisível
A eleição deste ano tem várias singularidades. Pela primeira vez vais e testara dimensão da força do digital contra as formas convencionais de comunicação. A maioria dos candidatos fez chapa de pessoas da mesma tendência. Entre os mais competitivos, só Ciro é do Nordeste, que tem 27% do eleitorado, mas o Rio Grande do Sul estará como vice no PSDB e talvez no PT. A maior das singularidades é Lula, o pré-candidato preso, liderando as pesquisa seque pode ser declarado inelegível.
Essa não é uma eleição normal, diz o cientista político Cesar Zucco, da Fundação Getúlio Vargas. Conversei com ele e como cientista político Lúcio Rennó, da Universidade de Brasília, na Globonews, sobre a situação atual da disputa que acontecerá em menos de dois meses.
Rennó acha que os debates, como o de ontem da TV Bandeirantes, sempre foram importantes para confirmar decisões, dar mais argumentos para a defesa do candidato que o eleitor já escolheu, mas desta vez pode ser diferente:
— Estamos entrando no período eleitoral com uma taxa muito elevada de indecisos e também de pessoas que dizem que não vão votar em ninguém. Há um desgosto, uma insatisfação com a classe política generalizada. Os debates servem para ativar o interesse pelas eleições.
Cesar Zucco falou do paradoxo da eleição nos Estados Unidos. É mais fácil prever o resultado muito antes da disputa, mas a campanha acaba embaralhando, e por fim confirma-se o previsto originalmente:
— Numa eleição normal, acredito fortemente que a gente poderia prever com bastante precisão o resultado, mesmo sem a campanha e com eventos de campanha aleatórios. Mas esta não é uma eleição normal.
Zucco nota que agora um debate pode ser editado por todo mundo, fazendo-se memes ou escolhendo-se os piores e os melhores momentos de cada candidato e usando isso como propaganda na mídia digital.
Rennó lembra que desta vez se poderá contrapor candidatos que não têm recursos tradicionais, tempo de TV, prefeituras, dinheiro de financiamento de campanha, mas têm uma base de apoio relativamente sólida, com os que têm esses recursos, mas podem não ter a base digital:
—Hoje não há como responder o que exatamente vai pesar mais, porque de fato não sabemos.
O mais inusitado dos fatos nesta eleição é haver um candidato preso com dois vices. A grande dúvida é se a estratégia do PT vai dar certo. Zucco acha que há riscos, mas também chances: —Nunca antes na história deste país tivemos uma situação como esta. Se Lula pudesse ser candidato, se não houvesse dúvidas sobre a candidatura dele, muito provavelmente seria o mesmo cenário de sempre.
Alckmin teria posto a banda dele na rua há muito tempo porque teria um adversário bem definido. E haveria o mesmo cenário das últimas eleições. Do ponto de vista estratégico, eu acho que a decisão (do PT, de manter a candidatura de Lula) faz sentido. Não tinha como fugir dela, e ela tem alguma chance de sucesso no primeiro turno. Dependendo de como ocorrer a transição de Lula para o candidato, há um alto grau de probabilidade de transferência. Do ponto de vista mecânico, basta votar 13. E é muito difícil sujar a imagem de quem não vai debater. Há um risco nessa estratégia, mas também chance de retorno.
A estratégia de Alckmin, de fechar com o centrão apesar das acusações de corrupção contra os partidos, tem como retorno óbvio o tempo de TV e recurso de financiamento de campanha.
— Até hoje são os dois recursos que mais importam para o sucesso eleitoral de uma coligação. Saber se vai continuar assim é o elemento mais importante desta campanha e que poderá mudar inclusive a maneira como se constrói a coligação eleitoral no futuro —diz Lúcio Rennó.
Os cientistas políticos argumentam que sempre existiu o antipetismo. Ele cresce com o crescimento do próprio PT. A novidade desta vez é ter surgido uma força que atraiesse movimento à direita do PSDB, que é Jair Bolsonaro.
Eles acham que este ano a formação das coligações e das chapas foi bem mais complexo, e num tempo bem menor, e é isso que, de certa forma, explica as composições feitas nas chapas, como Bolsonaro com um militar; e Marina com um verde; PT e PCdoB. Tudo nesta eleição é experimento. Por isso ela será um momento de intensa atividade para os cientistas políticos. Uma eleição nada normal, num tempo de mudanças e inusitados.
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