- O Globo
O presidente eleito terá um chanceler à sua imagem e semelhança. Ernesto Araújo emula o discurso do chefe contra o ‘globalismo’ e é admirador de Donald Trump
O novo presidente terá um chanceler à sua imagem e semelhança. O futuro ministro Ernesto Araújo não é apenas um bolsonarista de carteirinha. Ele também emula o chefe no discurso contra o “globalismo”, a “ideologia de gênero” e o “marxismo cultural”.
O ideário do novo chefe do Itamaraty pode ser consultado no blog “Metapolítica 17”. A página é dedicada a uma militância fervorosa a favor do capitão e contra o PT. Ele se refere à sigla como “Partido Terrorista”. Em tom imodesto, diz que pretende “ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista”.
“Se o PT ganhar, vai extinguir todas as luzes da decência e da liberdade”, escreveu, a uma semana da eleição. Ele acusou os petistas de tramarem um “regime de partido único, ditatorial, (...) um governo que controlará sua vida a partir da educação pré-escolar, que administrará sua família, que controlará o que você pensa e diz”.
O futuro chanceler também ecoa Bolsonaro na pregação contra a China, maior parceira comercial do Brasil. Ele sugere que é preciso resistir à “China maoísta que dominará o mundo”. O discurso parece levemente fora de época. A potência asiática começou a abandonar o maoísmo em 1978, com as reformas de Deng Xiaoping.
Em outro post, o embaixador que nunca chefiou uma embaixada repete clichês da direita hidrófoba. Diz que o socialismo “perverte o milagre da concepção com a ideologia do aborto, perverte o sexo com a ideologia de gênero e o feminismo” e “perverte a fé cristã”.
O anti-intelectualismo também desponta nos textos de Araújo. Para ele, “o povo é muito mais são e sábio do que a classe instruída”. As crianças brasileiras receberiam uma “educação cínica e anti-patriótica onde [sic] se ensina uma história sem heróis e onde professores sub-marxistas tentam criar pequenos militantes”.
Num artigo mais extenso, publicado em 2017 na revista “Cadernos de Política Exterior”, o diplomata ostenta admiração por Donald Trump. Compara o presidente americano a Reagan e Churchill e sustenta, sem ironia, que ele pode “salvar o Ocidente”. Ao que tudo indica, o Itamaraty está prestes a entrar num novo período de alinhamento automático à Casa Branca.
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