- Folha de S. Paulo
Bolsonaro e auxiliares se esforçaram para
deixar os brasileiros sem imunizantes
Jair Bolsonaro se esforçou para deixar
os brasileiros sem vacina contra a Covid-19 enquanto foi possível.
Quase toda a estrutura do governo parece ter se mobilizado para ignorar ofertas
iniciais do imunizante, apontar dificuldades que poderiam ter sido solucionadas
com um pouco de trabalho e adiar ao máximo a chegada de doses por aqui.
Na melhor das hipóteses para Bolsonaro, foi
exposta a total incompetência do governo para administrar o país, num momento
em que as vidas de milhares de cidadãos dependiam de uma ação eficiente. Sob um
ângulo mais realista, ficou caracterizada a negligência do presidente e de seus
auxiliares em mais um momento crítico da pandemia.
O governo ignorou pelo menos dez emails enviados pela Pfizer durante a negociação para a compra de até 70 milhões de doses da vacina da farmacêutica. Os documentos, revelados pela repórter Julia Chaib, indicam que o Palácio do Planalto demonstrou desinteresse pelo imunizante e atrasou em cerca de um mês as conversas com a empresa.
Agora, sob fogo na CPI da
Covid, o governo trabalha dobrado para inventar justificativas sem pé nem
cabeça para aquela omissão —no mesmo nível da piada do presidente sobre
vacinados que viram jacaré.
Nas últimas semanas, os bolsonaristas
disseram à comissão que era impossível fechar o acordo com a farmacêutica
porque a vacina da Pfizer não tinha uso autorizado pela Anvisa. Balela: o
presidente da empresa, Carlos Murillo, avisou ao governo que era possível
acertar o negócio “sem qualquer risco/prejuízo” ao país caso o imunizante não
recebesse o aval da agência.
A tropa de choque do governo e o
ex-ministro Eduardo Pazuello afirmaram ainda que cláusulas rigorosas impediam a
assinatura do contrato. As condições da Pfizer eram mesmo despropositadas, mas
o país topou as exigências, meses depois, ao aprovar um projeto que autorizava
a União a assumir responsabilidades. O governo não tomou iniciativa antes
porque não quis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário