O Estado de S. Paulo
Candidatura antecipou a corrida e as dúvidas sobre o presidencialismo brasileiro
Os fatos se adiantaram aos cálculos dos
operadores políticos e eles tiveram de correr devido ao “efeito Moro”. Previam
a largada para as eleições do ano que vem apenas em abril. O “grid” estará
completo, porém, ainda antes do Natal – quase meio ano de antecipação, uma
enormidade de tempo na política.
O “efeito Moro” se define pela velocidade e
abrangência com que um dos competidores alcançou projeção especialmente nos
grupos de formadores de opinião. O alarme entre os concorrentes soou devido a
um fato do qual já se fala há tempos, mas que esse “efeito” tornou ainda mais
evidente.
É a existência ou não de uma mistura (a proporção de combustível e ar no mundo dos motores) pronta para ser incendiada. Trata-se do potencial de voto em busca de quem não seja Lula ou Bolsonaro. A presença dessa larga camada é sabida há meses, e o mérito do “efeito Moro” até aqui foi demonstrar que, aparentemente, essa mistura está mais próxima de reagir à faísca do que se pensava.
Os operadores de várias forças políticas reagiram rápido ao “efeito Moro”, fato que reconhecem em público, mas não acham que seja necessário alterar outro cálculo: o de que decisiva mesmo nas próximas eleições é a formação de grandes bancadas. É o que explica movimentos de fusão (como PSL e DEM) e a relativa facilidade com que o Legislativo driblou o STF e convergiu com o Planalto para aprovar matérias que garantem a irrigação de emendas, com transparência ou não, e fundos eleitorais. Grandes bancadas dependem de grandes verbas.
Essa postura das raposas da política é uma
útil lição para se entender o fundamental dos cenários pós-eleições. Emendas do
relator e orçamento secreto não são outra coisa senão a expressão do avanço do
Legislativo em suas prerrogativas – leia-se poder de fato. Traduz um
progressivo enfraquecimento da autoridade do presidente da República no uso de
ferramentas como alocação de recursos via orçamento, iniciada com a
incompetência política de Dilma Rousseff (competência que Temer demonstrou ao
escapar de duas denúncias) e acelerada pela incompetência política de
Bolsonaro.
Está longe ainda do grande público a ideia de que o presidente que for eleito no ano que vem terá menos poderes frente aos parlamentares do que o presidente eleito em 2018. Embalado pelo próprio “efeito” inicial, Moro tem repetido que a aliança entre forças aparentemente antagônicas (PSDB e PFL) nos idos de FHC é a fórmula de sucesso que ele acha possível reeditar. É bom lembrar que FHC mandava mais, e do lado de lá tinha só um grande cacique.
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