Embalados nessa
cantilena, centrados em seus umbigos, deixam de reparar o abismo que se abre a
seus pés e de toda a sociedade com o avanço do fascismo, que apura a sua mira
em direção ao STF, até aqui o maior obstáculo aos intentos liberticidas, poder desarmado
apenas detentor do bom direito. O cenário internacional com o transcorrer dessa
infame guerra na Ucrânia é mais uma pedra no caminho dos que lutam contra os
regimes autocráticos, como aqui nas posições favoráveis do atual governo ao
regime discricionário russo, em claro desafio às melhores tradições da nossa
política externa.
Nesse quadro, que ainda pode se agravar com uma eventual vitória dos republicanos nas eleições legislativas americanas, salvo a UE e a jurisdição benfazeja da ONU nas relações internacionais, somente devemos contar com forças próprias, em primeiro lugar numa articulação inédita das forças políticas, tão ampla quanto possível, a ser amparada por uma corajosa mobilização popular em defesa da economia popular sempre com foco na valorização das nossas instituições democráticas. Tal articulação deve necessariamente incluir o Centrão e todas as forças e personalidades que dependam do voto para a satisfação dos seus interesses. No caso, deve-se destacar a recente manifestação dos presidentes do Senado. Rodrigo Pacheco, e da Câmara dos Deputados, Artur Lira, em defesa do nosso sistema eleitoral, atacado pelo presidente Bolsonaro em sua estratégia de derruir as bases da nossa democracia.
Na verdade, o que
se mantém sob ataque cerrado das hostes antidemocráticas não é um partido ou
personalidades singulares, mas a própria conformação do país, com suas
instituições, história, tradições e valores, alvos da fúria dos esbirros em sua
sanha destrutiva da cultura e das manifestações da vida popular. O caso mais
aberrante dessa delirante perseguição está na questão racial posta a Fundação
Palmares sob a direção de um burocrata negro negacionista do racismo da
sociedade brasileira.
Na questão
indígena, num governo de militares abandona-se o legado do marechal Rondon para
se investir de modo genocida com suas populações a fim de dar passagem livre em
suas terras para os negócios da mineração, e a floresta amazônica é entregue à
cobiça do agronegócio e dos madeireiros cuja obra já começa a ameaça-la
tornar-se uma savana.
A herança comum que
recebemos dos nossos maiores cada dia é degradada. Sob ameaças tão pesadas o
que importa é defender o que nos é comum, desconhecendo barreiras entre regiões,
classes, entre o moderno e o atraso, por que nada tem escapado do ímpeto de
desnaturalizar o que faz Brasil Brasil. Aos Poderes Legislativo e ao Judiciário,
investidos da sua alta representação cabe estabelecer um limite institucional
às práticas deletérias que minam as nossas fontes de vida em comum. Aos
políticos e às lideranças da sociedade civil é dever o procurar linhas de
resistência consensuais, nas ruas e no voto, a fim de impor uma derrota ao
arbítrio de um governo celerado que se comporta nos moldes de um exército de
ocupação em nosso país.
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