Valor Econômico
Comando do Senado pode entrar na mira de
aliada do presidente
Raramente no centro do debate eleitoral, as
eleições no Distrito Federal simbolizam, em 2022, as idiossincrasias do grupo
político que está em torno do presidente Jair Bolsonaro. Especialmente quando
se analisa o microcosmo da disputa para o Senado.
Estão escancaradas algumas características que marcam a campanha bolsonarista. Uma delas é o instinto de sobrevivência que levou à parceria do presidente com lideranças do Centrão, as quais garantem a tranquilidade ao chefe do Poder Executivo no Congresso desde a segunda metade do mandato. Somam-se a ele a bandeira de “luta do bem contra o mal”, que tem apelo entre o público evangélico, e a necessidade de Bolsonaro aproximar-se do eleitorado feminino.
Do ponto de vista quantitativo, é verdade,
o DF está longe de ser um colégio eleitoral fundamental para quem disputa a
Presidência da República. Possui apenas 2,2 milhões dos 156,4 milhões dos
votantes do país, cerca de 1,4% do total das pessoas aptas a irem às urnas. Mas
é uma unidade da federação com peculiaridades que vão além dos escândalos de
corrupção que marcaram a política local.
O DF é um colégio composto majoritariamente
por mulheres -54% dos eleitores. Do total, grande parte tem ensino médio ou
superior completo, contrastando com outros Estados.
Um outro aspecto importante: há, por aqui,
uma quantidade grande de servidores públicos, os quais têm reclamado do
tratamento recebido do governo federal. Com relativa razão, apenas. O
funcionalismo escapou da necessária reforma administrativa enviada pelo
Executivo ao Congresso em setembro de 2020, muito por causa da falta de
entusiasmo do próprio presidente com a proposta, mas não conseguiu os ganhos
salariais que gostaria.
Terá agora que esperar 2023 para negociar
com a próxima administração. Seja ela qual for. Até lá, será possível verificar
se o resultado das últimas eleições se repetirá em outubro.
No segundo turno de 2018, Bolsonaro venceu
em todas as regiões do DF. Fez barba, cabelo e bigode, ao ver os candidatos a
governador e ao Senado que declaradamente o apoiavam, Ibaneis Rocha (MDB) e
Izalci Lucas (PSDB), vencerem a disputa com relativa facilidade. Leila Barros,
a outra senadora eleita naquele ano, disputou a cadeira que hoje ocupa pelo PSB,
mas também defendia bandeiras pouco identificadas com os partidos de esquerda.
Posicionava-se contra o aborto e a legalização da maconha, e a favor da
liberação do porte de armas.
Segundo levantamento feito pelo portal “g1”
à época, a votação mais expressiva de Fernando Haddad, então candidato do PT à
Presidência e que hoje disputa o governo de São Paulo pelo partido, foi na Asa
Norte. O bairro nobre, conhecido por seus bares e pela vida noturna mais
agitada do que a oferecida pela Asa Sul, deu 38,86% dos votos válidos ao
petista. Um percentual superior ao visto nas regiões mais afastadas do Plano
Piloto.
Em Samambaia, por exemplo, Bolsonaro obteve
acachapantes 74,65%. Conquistou 73,05% dos votos dados no Núcleo Bandeirante e
73,03% em Taguatinga, onde nasceu a ex-ministra da Secretaria de Governo da
Presidência Flávia Arruda. Justamente ela que está hoje, junto com a
ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves, no
centro da disputa que envolve os valores propagados pela campanha bolsonarista
e o pragmatismo adotado pelo grupo político do presidente.
Deputada federal pelo PL, partido do
presidente, Flávia Arruda foi alçada ao primeiro escalão justamente depois que
ele precisou compor com o Centrão para mitigar o risco de enfrentar um processo
de impeachment. No fim de julho, depois de Bolsonaro participar diretamente das
negociações para tentar unificar seu palanque local, Flávia foi escolhida para
compor a chapa majoritária, como candidata a senadora, ao lado do governador
Ibaneis Rocha.
A escolha representou uma vitória política
sobre Damares. Filiada ao Republicanos, ela também tentava ser a candidata do
presidente ao Senado por Brasília e fora preterida no acordo fechado no Palácio
do Planalto. Em tese, poderia ter que acabar disputando uma vaga na Câmara dos
Deputados. Mas acabou ganhando novo impulso depois de um erro tático de José
Roberto Arruda.
Dias depois, o ex-governador e marido de
Flávia foi a um ato numa cidade satélite e pediu votos para a esposa, para si
na eleição para deputado federal e aliados que disputam uma vaga na Câmara
Legislativa. Porém, na hora de seguir pedindo apoio dos presentes para Ibaneis
e Bolsonaro, disse que cada um tem a sua escolha e nestes casos não iria
“interferir”. Não pegou bem.
O áudio circulou entre aliados do
presidente, e Damares acabou se lançando de forma avulsa ao Senado. Agora, as
duas lutam pela preferência do mesmo tipo de eleitor.
O público cristão está no centro da
disputa. Damares, aliás, construiu sua carreira política nesse segmento.
Foi em 1998, cerca de três anos depois de
começar a ajudar à distância parlamentares com uma assessoria jurídica a
respeito dos temas de interesse dos evangélicos, que ela mudou-se do interior
de São Paulo para a capital federal com o objetivo de fazer esse trabalho
presencialmente. Desde então, a ex-ministra notabilizou-se pela produção de
material que guiava a atuação desses congressistas e os ajudava a construir
plataformas eleitorais.
Ao auxiliar o ex-senador Magno Malta, que
chegou a ser convidado para disputar a vice de Bolsonaro em 2018, destacou-se
no período de transição e foi nomeada ministra. Uma das poucas mulheres da
escalação original para a Esplanada.
Próxima da primeira-dama, Damares já começa
a atacar a chamada “velha política”. É como pode se diferenciar de sua
adversária direta, a qual também tem defendido bandeiras ligadas à religião e à
família.
No dia 2 de outubro, o eleitor que votará em Bolsonaro precisará escolher uma das duas. O que talvez ele não saiba é que, se o presidente for reeleito, quem vencer pode querer disputar o comando do Senado em 2023 com a bênção do Palácio do Planalto.
Um comentário:
Católico também é cristão,espírita,como eu,também é,o cristianismo de Damares e companhia,aliás,é muito suspeito.
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