O Estado de S. Paulo
Se quisermos competir globalmente, é determinante equalizar esse fator, pois o custo do dinheiro hoje no País inviabiliza qualquer investimento produtivo
Desde o advento do Plano Real, há quase 29 anos, em julho de 1994, quando nossa moeda passou a ser mais estável e vencemos o fantasma da inflação corrosiva, temos enfrentado, de modo paradoxal, juros muito elevados, não só os básicos, como os referentes aos empréstimos no mercado financeiro. As causas do problema são polêmicas e objeto de distintas explicações: insegurança jurídica; carga de tributos sobre as operações creditícias; dificuldade de retomada dos bens em garantia; histórico de inadimplência; desequilíbrio fiscal do setor público; e concentração bancária, entre outros fatores.
Independentemente dos motivos e das
discussões e teses sobre a questão, é necessário que as taxas no Brasil sejam
mais alinhadas às de outros países com características semelhantes e até mesmo
alguns que têm fundamentos econômicos piores do que os nossos. Afinal, estamos
diante de um fator que freia o nível de atividade, pois é inibidor dos
investimentos, prejudicial aos setores produtivos e desestimulante do consumo.
Por isso, a retomada consistente do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)
demanda juros estruturalmente compatíveis com a taxa de retorno dos
investimentos produtivos. Esse é um desafio crucial que temos pela frente.
A indústria, cujo desempenho é fator determinante
para o crescimento econômico sustentado e sustentável, é particularmente
afetada pelo problema, pois seu fomento exige investimentos significativos,
muitas vezes inviabilizados pelo custo exorbitante do dinheiro. Cabe lembrar –
e lamentar – a queda do setor na composição do PIB nacional, de 25%, há cerca
de quatro décadas, para cerca de 11% hoje. No plano global, nosso parque
fabril, que já figurou entre os dez maiores, recuou em outubro passado para o
15.º lugar.
O setor, que até o início da década passada
respondia por 2% da produção mundial, despencou para 1,28%, menor índice da
série histórica, iniciada em 1990. O levantamento foi divulgado pela
Confederação Nacional da Indústria (CNI) com base em estatísticas da
Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido) e da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
No que diz respeito à indústria, estamos na
contramão do que vêm fazendo numerosos países, que promovem seu fomento,
incluindo créditos subsidiados. Precisamos de políticas eficazes para o setor,
que gera empregos de qualidade, paga os melhores salários, agrega valor à pauta
de exportações e é o que mais investe em tecnologia e inovação. É fundamental
nos alinharmos a padrões mais avançados da atividade no mundo, para
conquistarmos competitividade elevada.
Entretanto, temos hoje a Selic em 13,75%.
Nossos juros reais, de 8% ao ano, são os maiores do mundo e muito mais altos do
que os do segundo colocado nesse ranking, o México, com 2,7%, e o terceiro, a
China, com 1,9%. Cabe enfatizar que grande parte das nações, como os Estados
Unidos (-2%), tem até mesmo taxas negativas. Assim, se quisermos competir
globalmente, é determinante equalizar esse fator, pois o custo atual do
dinheiro no Brasil inviabiliza qualquer investimento produtivo.
Entre outras questões estruturais, como
impostos altos, insegurança jurídica e baixa produtividade, nossas elevadas
taxas são um dos fatores responsáveis pelo baixo crescimento da economia
brasileira, que foi de apenas 0,3% ao ano na década de 2011 a 2020, segundo
cálculos da Fundação Getúlio Vargas (FGV). No período de 1947 a 1980, nossa
média de expansão anual do PIB foi de 7,1%.
Para crescer pelo menos 3% ao ano, índice
mínimo para viabilizar nossa ascensão ao patamar de nação com renda alta, são
necessários investimentos equivalentes a 22% do PIB, ante cerca de 18%
atualmente. Para tornar possível esse avanço, os juros dos financiamentos são
um elemento crítico e fundamental.
Assim, necessitamos encontrar um equilíbrio
estrutural para que as taxas conciliem o controle da inflação e a viabilidade
dos investimentos em infraestrutura, aporte tecnológico, incremento industrial,
empreendedorismo e produtividade. Essa equação passa, necessariamente, pela
sinergia entre as políticas fiscal e monetária.
Encontrar o ponto de equilíbrio é decisivo.
Nesse sentido, é interessante observar que, na ata do Comitê de Política
Monetária (Copom) subsequente à reunião do colegiado em 31 de janeiro e 1.º de
fevereiro, quando a Selic foi mantida em 13,75%, enfatiza-se que o pacote
fiscal anunciado em janeiro pelo governo pode ter efeito benigno para as
expectativas de inflação. É sinalizada, também, uma tendência de arrefecimento
inflacionário no Brasil e no mundo. Daí, é possível inferir a possibilidade do
início de um fluxo de queda das taxas.
Trata-se de meta fundamental, pois não
podemos continuar comprometendo nosso desenvolvimento, como fazemos há mais de
três décadas, distanciando-nos do objetivo maior referente à melhoria da
qualidade de vida da nossa população. Não cabem, porém, medidas voluntariosas,
que nos causaram danos relevantes no passado recente. A solução, no entanto, é
premente!
*Presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT)
Um comentário:
"Temos hoje a Selic em 13,75%. Nossos juros reais, de 8% ao ano, são os maiores do mundo e muito mais altos do que os do segundo colocado nesse ranking, o México, com 2,7%, e o terceiro, a China, com 1,9%."
E a maior parte da imprensa critica Lula por pressionar o Banco Central "independente" e seu presidente BOLSONARISTA Roberto Campos Neto, que mantêm tal absurdo e NÃO atingiram suas metas!
O bolsonarista é "competente" para tais colunistas...
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