quarta-feira, 28 de junho de 2023

Vera Rosa - Sem Bolsonaro, desafio de Lula é Arthur

O Estado de S. Paulo

Presidente da Câmara desconfia de investigações da PF e Centrão quer derrubar Padilha

Diante do julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode tornar Jair Bolsonaro inelegível por oito anos, a avaliação do núcleo duro do governo é a de que o problema do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, agora, tem outro nome. Em busca de votos da direita após a cassação dos direitos políticos do ex-presidente, dada como certa, a articulação política do Palácio do Planalto será posta à prova. E o desafio de Lula, nesse cenário, se chama Arthur Lira (PP-AL).

Líder do Centrão, o presidente da Câmara anda contrariado por não ter mais o controle da distribuição de emendas parlamentares. No diagnóstico do grupo de Lira, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, é o responsável por travar a liberação de R$ 9,9 bilhões que, com o fim do orçamento secreto, foram herdados por ministérios.

O Centrão passou a trabalhar para derrubar Padilha e se aproximou do chefe da Casa Civil, Rui Costa. Nesse serpentário, nada poderia ser mais simbólico do que a foto postada ontem nas redes sociais, mostrando Padilha, Costa e o líder do governo na Câmara, José Guimarães, sorridentes e com mãos entrelaçadas.

Quem acompanha os movimentos no Planalto sabe muito bem como é o relacionamento dos três petistas: em público reina a paz. Nos bastidores, um culpa o outro por derrotas no Congresso. “Vocês vão ter de acertar isso”, avisou Lula, na reunião ministerial do dia 15. “Se vocês não resolverem, eu vou ter de resolver.”

Para Padilha, a negociação com o Centrão deve ser conduzida no varejo, e não no atacado. A estratégia tem o objetivo de esvaziar o poder de Lira e evitar que ele se fortaleça para eleger seu sucessor ao comando da Câmara, em 2025.

Apontado como culpado por barrar a liberação de emendas e cargos, Costa conseguiu virar o jogo a seu favor após se reunir com Lira, há duas semanas.

O “malvado favorito” da história, para o Centrão, é Padilha, que indicou a ministra da Saúde, Nísia Trindade. A cadeira é cobiçada pelo PP, mas Lula não dispensará Nísia. Por enquanto, sai Daniela Carneiro (Turismo) e entra Celso Sabino, homem da confiança de Lira.

Lula tem dificuldade para demitir. Está nos seus planos, porém, fazer mudanças na equipe, no segundo semestre. A ideia é entregar a partidos do Centrão o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), com orçamento de R$ 84,34 bilhões, e a Funasa, a ser recriada.

Apesar desses acenos, Lira não confia no Planalto. Além disso, culpa o governo por vazamentos de investigações da Polícia Federal, que chegam cada vez mais perto dele. A pedra no sapato de Lula, hoje, atende pelo nome de Arthur.

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