quarta-feira, 10 de julho de 2024

Bruno Boghossian - O 'caixa dois' das joias

Folha de S. Paulo

Em áudio obtido pelos investigadores, chefe de departamento diz que alguns presentes não eram registrados oficialmente

Polícia Federal descreve no inquérito das joias o funcionamento de uma máquina que reproduz marcas conhecidas da relação de Jair Bolsonaro com o poder. Uma delas é o uso das estruturas oficiais do governo para fins particulares. Outra é a confusão deliberada entre bens públicos e patrimônio privado.

Esses dois desvios aparecem no que poderia ser descrito como uma espécie de "caixa dois" de presentes recebidos pelo então presidente. Segundo a PF, o departamento responsável pela catalogação desses bens deixava de registrar certos itens quando Bolsonaro manifestava interesse neles.

Pelas regras, o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica tinha o dever de produzir uma lista de presentes entregues a Bolsonaro. Em seguida, eles poderiam ser incorporados ao acervo público ou ao acervo privado do presidente, a partir de uma análise técnica.

Mas o militar da Marinha que chefiava o órgão, dizem os investigadores, "dava tratamento aos presentes conforme os interesses do chefe do Executivo". Numa troca de mensagens de áudio com um funcionário do setor administrativo do Palácio da Alvorada, o capitão de corveta Marcelo Vieira recomenda que alguns itens não sejam catalogados.

"Se o presidente falar: 'Eu quero agora sem registro', não manda para o GADH registrar, não preenche a papeleta", disse. Vieira afirmou que esse procedimento deveria ser feito para objetos que Bolsonaro gostaria de "usar na vida cotidiana". Nesses casos, determinou: "Você pode guardar lá, só que isso não dá entrada oficialmente".

A recomendação veio acompanhada de um alerta: a omissão dos bens só deveria ser feita quando a entrega dos presentes não fosse pública. "Teve registro fotográfico? Quem deu, foi uma autoridade?", questionou. "Tem que ter todo um cuidado pra que a gente não exponha o presidente".

A conversa de Vieira com o funcionário do Alvorada ocorreu em setembro de 2021 e tratava de um conjunto de seis facas recebidas por Bolsonaro. A PF, porém, afirma que o modus operandi foi usado para ocultar o relógio Patek Philippe que Bolsonaro recebeu em visita ao Bahrein e seria vendido no ano seguinte.

O diálogo contradiz o depoimento de Vieira aos investigadores. Na ocasião, ele disse que a avaliação dos bens não levava em conta o valor ou o "gosto do presidente". Afirmou ainda que todos os presentes seriam direcionados ao acervo público ou ao acervo privado

O advogado de Marcelo Vieira afirma que o indiciamento é resultado "de uma desmedida tentativa de perseguição a outras pessoas" e que as atividades de seu cliente no Gabinete Adjunto de Documentação Histórica "foram realizadas no sentido de manter total zelo e cuidado" com bens públicos.

 

3 comentários:

Anônimo disse...

Super curioso se um dia o colunista irá escrever uma linha sobre o caso Âmbar......

Anônimo disse...

Um capitão de corveta comandava o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica. Esta Documentação histórica não tinha relação com guerras ou com militares... Um general era o ministro da Saúde, e a diretoria do Ministério da Saúde foi totalmente militarizada. Pazuello ao assumir reconheceu que nada entendia do SUS, o sistema público de saúde que deve manter a saúde dos brasileiros. 700 mil morreram porque moravam aqui, comandados por um imbecil negacionista. Pelo menos 200 mil sobreviveriam se vivessem noutro país que seguisse as recomendações da OMS.
A militarização se estendeu a outros ministérios civis, como Minas e Energia, Meio Ambiente, Infraestrutura, Educação (com as famigeradas escolas cívico-militares), etc. O ministro da Marinha apoiava as tentativas golpistas de Bolsonaro! Faltou pouco pro canalha conseguir destruir nossa Democracia. Mas encher o bolso ele conseguiu...
Bolsonaro genocida, golpista e ladrão, teu lugar é na prisão!

ADEMAR AMANCIO disse...

Quanta sujeira!