Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Crise desperta atores sociais do sono causado pela concórdia luliana, mas muita gente não parece saber de que lado está
FHC DIZIA , em tom de troça, que a esquerda e o PT não combatiam o capital, mas o governo. Se a piada fosse levada a sério, num governo do PT o conflito político-social aberto tenderia a zero. Era só piada? A celeuma detonada pelo ministro do Trabalho revela alguns nós do conflito de fato amarrado no ambiente pastoso da "pax luliana".
O ministro criticou demissões e empresários, os quais se revoltaram, reafirmaram demissões, jornadas e salários menores e ainda repuseram na mesa o fim da CLT, ora já em curso, comida pelas bordas. Enquanto isso, sindicatos parecem desnorteados. A crise assim desperta os contendores da disputa político-social, mas eles parecem não saber muito bem de que lado do ringue estão.
A ascensão final do lulismo, que sugou e embalsamou o petismo, provocou uma radicalização por assim dizer simbólica. Lula e o conjunto de sua obra são detestados por uma minoria, minoria porém muita vez "orgânica", entre eles a direita que agora ousa dizer o seu nome, embora esse partido direitista ainda viva mais restrito ao mundo das palavras. Mas, afora essa minoria, o resto é uma mistura avacalhada.
Note-se que a grande empresa ou seus órgãos de classe são pela "responsabilidade social". Quando mais políticos, constituem uma ala do partido desenvolvimentista. Este é uma colcha de retalhos mal costurada de industriais paulistas (e seus tentáculos no resto do país), economistas "heterodoxos", da cúpula petista no governo etc. Batem-se com o BC e, em parte, com os bancos.
A oposição política, em suma partidos fora do poder federal, limita-se a esperar uma oportunidade de ir à jugular de Lula a fim de ganhar a eleição. Não entra no debate público, não tem projeto político ou nacional, vota populismos com o governo e tira casquinhas. Nada mais. A Casa das Garças, instituto de pesquisa de economistas liberais, muitos tucanos e financistas, é um partido mais relevante e infinitamente mais inteligente que PSDB e DEM.
O que restou da oposição "popular"? De petismo, centrais sindicais, "movimentos sociais", MST, ONGs? Cumpriram a profecia debochada de FHC. Encaixaram-se no Estado ou são por ele manipulados, caso de centrais sindicais (CUT, Força, tradicionalmente pelega etc.). O MST ora faz só chacrinhas ocasionais, manietado pela adesão a Lula e algo esvaziado pelo efeito das bolsas sociais. ONGs e "movimentos sociais", que sempre tenderam à despolitização, negociam seus pleitos diretamente com burocratas lulianos, vários deles ex-líderes "sociais".
Os sindicatos perderam força e coesão com a abertura econômica e a desconcentração industrial, faces da mesma moeda. De resto, as centrais sindicais se fragmentaram e parte delas está em sintonia com o governo e/ou aceita o desmonte da lei trabalhista (que demanda reforma, não desmonte). No fim das contas, é como se "trabalho e capital" tivessem aparado arestas no "Conselhão" de Lula, o que não é possível além da ideologia, mas ocorre politicamente, ao menos até agora.
A crise começa a chegar nesse ambiente pastoso, em que identidades políticas e sociais se derreteram no cadinho do "Conselhão", não exatamente lá, mas no "Conselhão" como símbolo da "pax luliana".
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Crise desperta atores sociais do sono causado pela concórdia luliana, mas muita gente não parece saber de que lado está
FHC DIZIA , em tom de troça, que a esquerda e o PT não combatiam o capital, mas o governo. Se a piada fosse levada a sério, num governo do PT o conflito político-social aberto tenderia a zero. Era só piada? A celeuma detonada pelo ministro do Trabalho revela alguns nós do conflito de fato amarrado no ambiente pastoso da "pax luliana".
O ministro criticou demissões e empresários, os quais se revoltaram, reafirmaram demissões, jornadas e salários menores e ainda repuseram na mesa o fim da CLT, ora já em curso, comida pelas bordas. Enquanto isso, sindicatos parecem desnorteados. A crise assim desperta os contendores da disputa político-social, mas eles parecem não saber muito bem de que lado do ringue estão.
A ascensão final do lulismo, que sugou e embalsamou o petismo, provocou uma radicalização por assim dizer simbólica. Lula e o conjunto de sua obra são detestados por uma minoria, minoria porém muita vez "orgânica", entre eles a direita que agora ousa dizer o seu nome, embora esse partido direitista ainda viva mais restrito ao mundo das palavras. Mas, afora essa minoria, o resto é uma mistura avacalhada.
Note-se que a grande empresa ou seus órgãos de classe são pela "responsabilidade social". Quando mais políticos, constituem uma ala do partido desenvolvimentista. Este é uma colcha de retalhos mal costurada de industriais paulistas (e seus tentáculos no resto do país), economistas "heterodoxos", da cúpula petista no governo etc. Batem-se com o BC e, em parte, com os bancos.
A oposição política, em suma partidos fora do poder federal, limita-se a esperar uma oportunidade de ir à jugular de Lula a fim de ganhar a eleição. Não entra no debate público, não tem projeto político ou nacional, vota populismos com o governo e tira casquinhas. Nada mais. A Casa das Garças, instituto de pesquisa de economistas liberais, muitos tucanos e financistas, é um partido mais relevante e infinitamente mais inteligente que PSDB e DEM.
O que restou da oposição "popular"? De petismo, centrais sindicais, "movimentos sociais", MST, ONGs? Cumpriram a profecia debochada de FHC. Encaixaram-se no Estado ou são por ele manipulados, caso de centrais sindicais (CUT, Força, tradicionalmente pelega etc.). O MST ora faz só chacrinhas ocasionais, manietado pela adesão a Lula e algo esvaziado pelo efeito das bolsas sociais. ONGs e "movimentos sociais", que sempre tenderam à despolitização, negociam seus pleitos diretamente com burocratas lulianos, vários deles ex-líderes "sociais".
Os sindicatos perderam força e coesão com a abertura econômica e a desconcentração industrial, faces da mesma moeda. De resto, as centrais sindicais se fragmentaram e parte delas está em sintonia com o governo e/ou aceita o desmonte da lei trabalhista (que demanda reforma, não desmonte). No fim das contas, é como se "trabalho e capital" tivessem aparado arestas no "Conselhão" de Lula, o que não é possível além da ideologia, mas ocorre politicamente, ao menos até agora.
A crise começa a chegar nesse ambiente pastoso, em que identidades políticas e sociais se derreteram no cadinho do "Conselhão", não exatamente lá, mas no "Conselhão" como símbolo da "pax luliana".
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