Os economistas Claudio Porto e Rodrigo Ventura, da consultoria Macroplan Prospectiva, Estratégia & Gestão, estão coordenando um amplo estudo de tendências e cenários do Brasil e sua inserção no contexto global para os próximos 20 anos. Esse estudo prospectivo, incluindo quantificações e regionalizações, estará concluído no 1otrimestre de 2010, mas um ensaio preliminar, contendo as hipóteses e conjecturas que orientam as primeiras pesquisas que o integram, já indica algumas conclusões interessantes, especialmente diante da perspectiva de aumentarmos nosso diferencial competitivo no mundo com as novas descobertas do pré-sal.
O estudo lembra que por 60 anos, entre 1910 e 1974, o Brasil foi o país com a maior taxa de crescimento econômico do mundo (média de 7% a.a.).
Nas décadas de 80 e 90, este crescimento declinou substancialmente, e o país passou a registrar taxas médias de crescimento econômico inferiores à média mundial.
A partir de 2005, o Brasil voltou a expandir as taxas de crescimento (taxa média de variação de PIB de 4,5% a.a.
entre 2005 e 2008). Para os autores do estudo, no momento, no campo econômico as questões que se colocam são as seguintes: 1 A atual crise mundial abortará o crescimento econômico brasileiro? 2 O Brasil consolidará ou não uma trajetória de crescimento sustentado e em patamares elevados nas próximas duas décadas? Para os analistas da Macroplan, o futuro do Brasil, sob uma perspectiva de longo prazo, está condicionado à evolução de alguns fatores estruturais que poderão impulsionar ou inibir o seu desenvolvimento sustentado nas próximas décadas.
Entre os fatores inibidores estão o baixo nível de escolaridade e de qualificação da população; violência urbana; gargalos na infraestrutura logística; carga tributária elevada, sistema tributário distorcido e má qualidade do gasto público; déficit da Previdência e pressões crescentes sobre o sistema previdenciário; excesso de burocracia, prejudicando o ambiente de negócios e inibindo o empreendedorismo.
A questão ambiental também pesa. A elevada pressão antrópica, com atividades econômicas em larga escala e falta de regulação e fiscalização adequadas, aumenta drasticamente a taxa de desmatamento da Amazônia. Ao mesmo tempo, temos baixo desempenho dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) e a degradação do sistema de representação política.
Os fatores impulsionadores são condições estruturais que asseguram diferenciais competitivos de grande potencial em âmbito mundial neste início do século XXI, entre eles a diversidade e abundância de fontes de energia, inclusive renováveis.
A combinação das recentes e grandes descobertas de petróleo (inclusive na camada pré-sal) e uma posição de liderança em biocombustíveis faz do Brasil uma das maiores potências energéticas do mundo, salienta o estudo.
Com as reservas do présal já licitadas nos campos de Tupi, Iara e Parque das Baleias (29% de toda a área do pré-sal), a produção nacional pode saltar para 30 bilhões de barris dia na próxima década. Em termos de energia hidroelétrica, o Brasil possui potencial de geração de 258.410 megawatts, dos quais apenas 28,2% são explorados.
Os analistas destacam ainda um mercado nacional integrado e de grande escala, com segmentos econômicos mundialmente competitivos; o sistema bancário altamente organizado e sólido; as grandes reservas internacionais e a democracia consolidada como fatores impulsionadores do desenvolvimento.
Para a Macroplan, a trajetória do Brasil está condicionada à evolução dos cenários externos, ao efetivo aproveitamento de nossas potencialidades e, sobretudo, ao equacionamento dos gargalos destacados.
Eles acrescentam ainda incertezas relacionadas aos desdobramentos da questão fiscal e à inserção internacional do país nas próximas duas décadas. Assim, entre as principais incertezas de longo prazo da economia brasileira, destacam: “Com que intensidade o Brasil enfrentará os gargalos estruturais ao seu desenvolvimento sustentado nos próximos 10 a 20 anos? “Como o Brasil lidará com a questão fiscal neste horizonte? “Como se dará a inserção internacional do Brasil neste mesmo período de tempo?” Diante dessas incertezas domésticas, e tendo em vista as diferentes possibilidades de evolução do mundo no pós-crise, eles desenham quatro cenários econômicos para o Brasil no horizonte 2012-2030: Cenário 1 Em duas décadas o Brasil dá “Um Salto para o 1oMundo” com um crescimento sustentado, mantendo elevada taxa de expansão média do PIB (entre 4% e 6% a.a.). Neste cenário, em 2030, o PIB per capita do país alcançaria os US$ 25 mil em Paridade de Poder de Compra (PPC), equivalente ao da Itália em 2008.
Cenário 2 “Um Emergente Retardatário”. Neste caso, o crescimento econômico do país se estabiliza em patamar mediano, entre 3% e 4% a.a.
até 2030, quando o PIB per capita do Brasil alcançaria os US$ 17 mil (em PPC), próximo ao de Porto Rico em 2008.
Cenário 3 “Mudança de Patamar: bem perto do 1omundo”.
Após registrar taxa média de variação do PIB moderada entre 2010 e 2020 (entre 2,5% e 4% a.a.), o Brasil consolidaria um crescimento após 2020 acima de 5% a.a.
Neste cenário, em 2030, o PIB per capita do país alcançaria os US$ 18,5 mil (em PPC), equivalente ao da Coreia do Sul em 2008.
Cenário 4 “Crescimento Inercial: a ‘baleia’ volta a encalhar”.
Como resultado da persistência dos gargalos econômicos, o crescimento brasileiro até 2030 voltaria a cair, situando-se entre 1% e 3% anuais. Neste cenário, em 2030, o PIB per capita do país alcançaria os US$ 13 mil (em PPC), equivalente ao do Chile em 2008. (Continua amanhã)
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